quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

APELO PELAS HUMANIDADES, ainda a manifestações dos professores sobre a resolução SE 97/2007, publicada pelo D.O.E.

Recebemos da professora Carolina o seguinte texto, enviado também para ALESP, SEESP, USP e outras instituições a fim de sensibilização.

"O mundo só pode ir em frente por meio daqueles que se opõem a ele" (Goethe)

A força com que o neoliberalismo lançou seus tentáculos sobre as várias dimensões da vida no fim do século XX resultou, além da consolidação do capitalismo como sistema econômico dominante em escala mundial, na produção de um nefasto efeito sobre os seres humanos: tornou-os homens sem utopias, sem esperanças. A ambição em trilhar pelo caminho “mais rápido e fácil” para atingir-se glória, fama, riqueza e poder; as relações humanas mediadas pela força do dinheiro transformaram homens e mulheres em seres sem sonhos, desinteressados em lutar em prol da justiça social e da correção das desigualdades econômicas e sociais acentuadas pelo “rolo compressor” neoliberal vigente desde fins da década de 1980.

As Humanidades ou Ciências Humanas – as matrizes da História, Geografia, Sociologia e Filosofia - têm conformado o campo de discussão e de revisão crítica acerca dos limites e impasses do sistema capitalista e seus impactos de naturezas diversas sobre a sociedade e o meio ambiente. No entanto, enganam-se os que acreditam que o campo resume-se a esse enfoque: suas contribuições, certamente, vão muito além da percepção da condição humana num sistema naturalmente excludente. Entender-se enquanto sujeito crítico e intelectualmente autônomo, enquanto sujeito histórico que tem funções, direitos e deveres conformados no tempo e no espaço são apenas algumas dos ganhos que as Humanidades trouxeram para a formação de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade e no planeta onde vivem.

Em que pese tal contribuição, o governo do Estado de S. Paulo, sob a liderança do PSDB desde meados do decênio de 1990, vem dando sinais claros de que essa formação especificamente humanista de nossos alunos não se alia às expectativas de um situacionismo neoliberal que, ao primar pela consolidação de um Estado mínimo, investe na aculturação das massas por meio da institucionalização de cursos “profissionalizantes de fachada”, posto que serão dados por profissionais não formados em áreas de tecnologia.

A situação que as disciplinas de história, geografia, sociologia, psicologia, filosofia (somam-se a elas também, artes) encontram-se na hierarquia dos saberes escolares revela uma realidade assustadora: a diminuição cada vez mais massiva da grade horária de disciplinas que contribuem diretamente na autonomia intelectual e o pensamento crítico do futuro cidadão brasileiro.

A resolução SE 97/2007, publicada pelo D.O.E. em 21/12/2007, revela contornos de uma pedagogia jacobista que está sendo imposta pela Secretaria da Educação ao professorado paulista que instaurou a lógica da vigilância e punição aos que ousarem “sair da linha” traçada por ela: uma pedagogia que condenou ao ostracismo as disciplinas sociologia e psicologia, ao mesmo tempo de reduz o número de aulas de História, Filosofia, Geografia e Artes. Evidentemente que as disciplinas das áreas de linguagem e exatas são tão importantes quanto as humanidades para a formação de nossos alunos, porém importa fazermos algumas indagações: o que ou a quem o governador pretende atingir com a redução da significação das Humanidades na grade curricular dos ensinos Fundamental II e Médio? Quais valores pretendem “inculcar” nos jovens que estão sendo formados pela mencionada rede? Quais perdas e ganhos representarão tal corte para a formação de nossos cidadãos de amanhã?

As alterações publicadas “no apagar das luzes” e na “calada da noite”, ou seja, quando todo o professorado ingressava em recesso escolar, causou, no mínimo, estranheza e revolta entre a classe do magistério. É inadmissível que tais alterações sejam-nos impostas no início do ano letivo de 2008.

A sociedade, o sindicato e a academia deveriam se mobilizar contra essa situação. Não são apenas empregos e jornadas de trabalho docente que estão em jogo: mas, sobretudo, o investimento na formação de nossos jovens a fim de que se evite ações extremas como as que ocorre no Brasil: índios incendiados, prostitutas e domésticas espancadas, idosos maltratados, negros discriminados.

Hoje, como diria o grande historiador, Marc Bloch, “somos os vencidos provisórios de um destino injusto". Mais do que nunca, hoje, rogo a todos, assim como fez Bertold Brecht à sociedade alemã em tempos de nazismo, o direito de duvidar do que nos está sendo posto como ordinário, natural: “Nós vos pedimos com insistência:

"Nunca digam - Isso é natural,
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre sangue,
Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza,
Não digam nunca:
Isso é natural,
A fim de que nada passe por imutável”.

Em nosso caso, a violência tem outras dimensões, envolve a dignidade do aluno e do professor, colocada em xeque diante da ação de um "Estado consolidado sob a égide da democracia" que demonstra, freqüentemente, sinais de simpatia em relação às práticas ditatoriais.

FONTE: doe 21/12

PESSOAL, NÃO VEJO OUTRA ALTERNATIVA PARA IMPEDIR A AÇÃO DO "ROLO COMPRESSOR": FAZERMOS GREVE JÁ NO INÍCIO DO ANO!

HOJE, FOI GEOGRAFIA E HISTÓRIA. AMANHÃ, SERÃO AS OUTRAS. DAQUI A POUCO, HAVERÁ A PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO.


Professora Carolina.