quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Brigada Militar usa tropa de choque para reprimir professores

Tropa de choque empurra professores para fora de rua, em Porto Alegre (RS)./ Crédito: Jesus Alves





Professores protestaram em frente ao Palácio Piratini para exigir a liberação dos representantes sindicais do Cpers. Brigada Militar usou cavalaria e tropa de choque com o argumento de desobstruir a rua. Presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, condena ação da polícia.

Porto Alegre (RS) – Mais um protesto, desta vez de professores, terminou com a ação da cavalaria e da tropa de choque da Brigada Militar na manhã desta terça-feira, em Porto Alegre (RS). Cerca de 500 professores da rede pública estadual trancaram a rua Duque de Caxias, em frente ao Palácio Piratini, para pressionar que fossem recebidos pelo governo do Estado.

A presidente do sindicato da categoria, o Cpers, Rejane de Oliveira, conta que a comissão com nove trabalhadores não conseguiu chegar nem mesmo até a portaria do palácio para entregar um documento em que solicitavam uma audiência. Assim que a comissão se aproximou do palácio, as portas foram fechadas e a tropa de choque fez um cordão de isolamento.

Sem poderem ser recebidos, os professores solicitaram ajuda de deputados para intermediar a negociação com o governo. Foi neste momento, por volta das 9:30h diz Rejane, que se desencadeou uma ação violenta da Brigada Militar.

“Chegou para nós uma proposta do governo que se nós retirássemos os trabalhadores do meio da rua e se dirigissem para a Praça da Matriz, as nove pessoas que estavam na porta seriam recebidas. Quando orientamos os trabalhadores para irem para a praça, quando já estavam indo, a Brigada veio com cavalos e cassetetes pra cima da nossa categoria”, conta.

Depois de retirar os trabalhadores da rua, a sindicalista relata que os policiais ainda tentaram identificar os nove integrantes da comissão que estavam perto da porta do palácio. No entanto, os professores resistiram. O comandante-geral da Brigada Militar, Paulo Mendes, refutou as reclamações de violência por parte dos manifestantes. De acordo com ele, a ação foi necessária para desobstruir a rua e garantir a ordem pública.

No entanto, a sindicalista discorda do comandante-geral. Ela diz que a violência foi totalmente desnecessária, já que os professores ficaram das 8:30h até quase as 11h rodeados pela Brigada Militar. Ela também reclama do governo estadual.

“Foi uma violência desnecessária, porque a nossa categoria já estava se dirigindo para lá, inclusive, quando a polícia foi para a cima. Com certeza, demonstraram a falta de preparo e a política rebaixada desse governo quando dá ordens para a Brigada Militar, que deveria proteger o cidadão, mas é a principal causadora de violência”, reclama.

O motivo do protesto é a liberação das 40h semanais para que os representantes sindicais recém eleitos à direção do Cpers possam exercer as funções. A legislação estadual permite que apenas 11 professores sejam liberados para integrarem a direção do sindicato. No entanto, um acordo informal que já persiste há diversos governos libera um diretor de cada um dos 42 núcleos e mais os 15 membros da direção central do Cpers para as atividades sindicais.

O chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, marcou uma audiência para tratar do tema na próxima quinta-feira, às 17h.


domingo, 22 de junho de 2008

ESTAMOS EM GREVE

FOTO: PROFESSORA MARTA DIOGO

Estamos em GREVE. E agora?

(Uma conversa sobre o PORQUÊ, o PARA QUÊ e o COMO fazer GREVE)

– Professor, sexta-feira eu passei pela Praça da República e

vi como estava cheia. Você também estava lá?

– Estava.

– E o que vocês decidiram?

– Decidimos que estamos em GREVE.

– Nossa! Mas por que uma decisão tão radical?

– Vamos começar pelo começo. Não sei se você já reparou,

mas a escola pública não anda muito bem das pernas. O

governo e os jornais dizem a torto e a direito que a culpa é

dos professores. Incompetentes, faltosos, atrasados... estes

entre outros adjetivos são usados para qualificar os

professores e, por extensão, para culpá-los pelo péssimo

desempenho dos alunos. Mas será que é tudo culpa dos

professores?

– Se os alunos não aprendem direito deve ser por que os

professores não ensinam direito, né?

– É exatamente nisso que querem que vocês acreditem. Mas

pense bem: por que será que os professores não estão

conseguindo ensinar direito? Você acha que é a mesma coisa

dar aulas pra 35 e pra 50 alunos?

– Obviamente não.

– Pois os professores geralmente têm que lidar com salas

super-lotadas, em que faltam até carteiras pra alguns alunos.

Agora pense em mais outra coisa. Será a mesma coisa dar 20

aulas ou 30 numa semana? Ou 50?

– Novamente: não.

– Pois os professores muitos deles têm uma jornada de

trabalho super-carregada, em mais de uma escola, durante

os três períodos, nos cinco dias da semana. Isso porque o

salário anda lá em baixo. A gente começa a achar que é

normal que um professor tenha uma jornada diária de

trabalho de mais de 8 horas. E faça as contas: para quantos

alunos um professor dá aula? Quantos trabalhos e provas ele

tem para corrigir?

– É de um batalhão de gente, né não?

– Pois é! Agora imagine que este professor, por mais

dedicado que seja, não pode acompanhar a aprendizagem

de seus alunos, um por um. Com o tanto de coisas para

corrigir, fica tudo meio apressado. A parte mais fácil de tudo

é corrigir as provas; o difícil mesmo é conseguir corrigir os

alunos, fazer com que eles não errem mais naquele ponto. E

uns ficam sem aprender quase nada mesmo.

– Azar desses alunos...

– Não. Azar do professor! Porque essa coisa dos alunos não

aprenderem é bem frustrante, sabe? E veja bem: não é por

causa do aluno ser ruim, ou do professor ser ruim. Mas é

porque as condições de trabalho que enfrentamos é que são

ruins, muito ruins, para garantir uma educação de qualidade.

– Ixi, não tinha pensado nisso...

– Então! Junte essa frustração com a sobrecarga de trabalho.

Não temos aumento há mais de 3 anos e temos que colocar

a comida na mesa. Para isso trabalhamos mais do que

agüentamos, nos desgastamos e adoecemos com freqüência.

– Então é por isso que há tantas faltas de professores na

escola pública?

– Provavelmente é uma das razões, aliás bem razoável, não?

Imagine também que essa vida de correria muitas vezes

impede que possamos preparar nossas aulas como

gostaríamos, estudar coisas novas sobre nossas matérias.

Mas mesmo assim estamos na batalha. Agora pense no seu

material.

– Aquele jornal?

– Isso. Assim como ele chegou do nada para você, ele chegou

do nada para mim, na véspera. E recebi também uma

“Revista do Professor” em que se pretendia ensinar a mim

como ensinar com aquele jornal, aula a aula. Depois do

jornal, veio um outro “Caderno do Professor”, com várias

sugestões de seqüências de aulas que podemos dar.

– E isso é ruim, professor?

– Se fossem só sugestões, vá lá! Tem uma história no ar de

que vocês alunos seriam avaliados por aquilo que está lá no

tal Caderno. Aí, já não é sugestão, é imposição; se eu não

seguir a cartilha, vocês dançam.

– Entendi... puts!

– E tem outro lado isso aí. Eu já dou aula há algum tempo,

sobre assuntos até semelhantes àqueles do jornal ou do

Caderno... teria simplesmente que deixar de lado a minha

experiência para seguir uma cartilha que é completamente

estranha àquilo que aprendi durante esses anos todos? E

tudo aquilo em que acredito, o que sei fazer, pela minha

experiência, os caminhos que escolho para as aulas, as

questões que privilegio, como eu concebo a educação e o

ensino – tudo isto fica de lado? É o que a Secretaria da

Educação nos mandou fazer. Ela desprezou nossa

experiência, retirou uma conquista nossa: “a liberdade de

cátedra”. É uma situação humilhante, você não acha?


– Eu ficaria bem bravo se fizessem isso comigo.

– E tudo isto tem sido apresentado como a revolução do

ensino público paulista. Isso não parece uma grande farsa,

quando as condições de trabalho permanecem inalteradas?

– Para dizer o mínimo.

– Se parássemos por aqui a situação já se mostraria

revoltante, você não concorda? Mas isso não é tudo. Além

de difamar os professores na imprensa, sucatear as escolas,

super-explorar nosso trabalho e destruir nossa identidade

profissional, o governo agora quer retirar nossos direitos,

nossas conquistas históricas através de decretos que

restringem nosso direito de faltar quando ficamos doentes e

de nos removermos de unidade escolar quando precisamos

mudar de bairro, cidade ou região.

– Como assim, professor?

– É que, ao invés de melhorar as condições de trabalho que

adoecem os professores e os fazem faltar – o que é um

problemão –, o governo decreta que podemos apenas faltar

6 vezes por ano por conta de doença.

– Ah, então quer dizer que se o professor ficar doente em

mais de 6 dias por ano ele ganhará ainda menos?

– Isso mesmo.

– Se o cara estiver na pindaíba ele que venha dar aulas

doente?

– Parece ser este o recado.

– E o outro decreto, o da tal remoção?

– Se fulano tirar qualquer tipo de licença ou tiver mais de 10

faltas, ele não pode pedir transferência para dar aula em

outra escola. Se ele estiver entrando agora na carreira, só

poderá se remover daqui a três anos, mesmo se na escola

em que foi designado não tenha aulas o suficiente para ele

completar sua jornada. Fica condenado a dar aulas em mais

de uma escola, mesmo sendo efetivo.

– O sujeito tá lascado então, né?

– Calma, porque não é só isso. Pelo decreto, fica também

definido que os concursos para ingresso na carreira serão por

diretoria de ensino, e não mais para o Estado todo. Pode

acontecer de um candidato obter uma pontuação em que,

em uma região estaria classificado, e na outra não. Afora o

receio de que o processo e sua impessoalidade fiquem

comprometidas. Pior ainda é a situação dos professores que

não são efetivos, os “OFAs”. Muitos deles que já dão aula no

Estado há muito tempo. Agora, como se a experiência deles

não valesse muita coisa, terão que prestar uma prova, uma

seleção.

– Uma avaliação, né?

– É. Mas veja só, que coisa! Os OFAs já não têm garantias de

que haja aulas para eles no ano seguinte. São temporários,

com relações precárias de emprego. Então,se o sujeito não

passa na prova, ou perde a prova por causa de qualquer

motivo, ele não poderá assumir aula nenhuma enquanto

valer o processo de seleção – um ano, dois? Ninguém sabe.

Então, ele de repente pode ficarsem emprego. E, de novo:

não é fazendo avaliação e mais avaliação que a educação vai

mudar, se não se mexer nas condições de trabalho.

– Faz sentido...

– É uma medida que não tem impacto na educação, mas sim

na precarização da vida dos professores. O Estado não quer

assumir os vínculos e suas responsabilidades com estes

professores. São descartáveis e muitos serão descartados.

– Nossa professor! Como dizia meu avô: “A situação tá

cínica, os pior vai pras clínica”.

– Pois é. Antes de ir pras clínica resolvemos fazer uma

GREVE pra tentar reverter esta situação.

–Agora me diga o seguinte: e amanhã, vai ter aula?

– Em primeiro lugar,greve não significa ficar parado. É um

tipo curioso de paralisação, pois no fundo é uma grande

movimentação. Quando se está paralisado, em estado de

greve, é que se tem noção de como o cotidiano é que estava

em estado de paralisia. Portanto, ao invés de falarmos de

paralisação, deveríamos falar de suspensão das atividades

cotidianas, uma maneira de colocar em discussão aquilo

sobre o que quase não temos condições nem tempo de

discutir.

–Poxa! Legal isso! Mas discutir o que, hein?

– Temos bastante coisa pra discutir, não? Entre nós

professores, sabemos que o problema não está só no

decreto, mas tem a ver também com nosso Plano de

Carreira, com definição de uma jornada de trabalho que

possa garantir de fato a permanência do professor em uma

só escola, apontando para uma política de reajuste salarial.

Mas temos também muito a discutir com os alunos. Por isso,

pelo menos durante essa semana, poderíamos fazer algumas

atividades de greve: reuniões, debates, conversas entre os

professores, alunos e pais de alunos. Discutir o que todos

queremos, que é uma educação de qualidade para todos.

–É isso aí!

Ah... e sexta-feira, 20 de junho, às

14:00hs, temos nova Assembléia lá

no vão do MASP. Vê se aparece. A

gente continua o papo por lá também

e tenta dar um jeito nessa situação.

– Até lá então!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Currículo multicultural

A Lei federal 10.639 fez três anos, mas o ensino sistematizado da cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país ainda é iniciativa de poucos professores e escolas.Nas escolas públicas e particulares do Brasil, estão matriculados 49,2 milhões de alunos, da educação infantil ao ensino médio. Destes, 22,2 milhões se declaram negros ou pardos, e 16,7 milhões se declaram brancos. Temos ainda 497 mil de cor amarela, e 298 mil de origem indígena. Fora os 9,4 milhões de alunos que não declararam sua cor. É com essa colorida diversidade cultural que os milhões de professores brasileiros precisam lidar todos os dias dentro das salas de aula.
Mudando a versão da História
Uma das medidas tomadas pelo governo federal para atender melhor a essa diversidade foi a criação da lei 10.639, que determina que as escolas de ensino médio e fundamental incluam em seu conteúdo programático o estudo da história da África e dos africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do papel do negro na formação da sociedade nacional.Historicamente, os livros didáticos brasileiros traziam uma versão simplificada e até deturpada a respeito da colonização do Brasil.
Os povos indígenas eram considerados preguiçosos, os escravos africanos eram inferiores, e os brancos europeus eram a fonte de cultura, de conhecimento e de civilidade. Claro que essa visão discriminatória vem mudando há anos, mas o preconceito racial é ainda muito presente na sociedade.
O episódio recente envolvendo o coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia - um médico branco que afirmou que o resultado ruim dos alunos do curso no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) era por conta do baixo QI dos baianos - é apenas um triste exemplo disso.
Para a professora-doutora Petronilha Beatriz Gonçalves, pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos (SP) e ex-conselheira do Conselho Nacional de Educação, a sociedade ainda está acostumada a ter uma visão de raça superior de origem européia: “E esse é o maior desafio: mudar o pensamento de professores, gestores e governos. A educação é a saída para combater o preconceito não só das crianças mas, principalmente, dos adultos.
Mudando a cabeça de quem ensina a História
Após três anos de vigência, a lei 10.639 ainda não foi aplicada na maioria das escolas brasileiras por falta de vontade política, mas também por falta de interesse dos professores: “Para a lei pegar, depende muito do professor se engajar. Não adianta os governos oferecerem capacitação e material de apoio didático se o próprio professor não acreditar na proposta, se a escola não incentivar esse uso”.
Para ela, há um receio entre os professores de que falar sobre isso pode configurar um estímulo ao preconceito racial: “Mas quem pensa assim é porque não entendeu direito a proposta. É preciso que o professor saiba como tratar desse assunto e, em muitos casos, desconstruir o próprio preconceito, para que possa ensinar de maneira mais isenta”.
E investimento em capacitação e material didático não falta. Segundo dados da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - Secad, do MEC, até agora mais de 11 mil professores já passaram por uma qualificação, e 18 livros voltados para esse tema foram produzidos. O Estado de São Paulo, por sua vez, capacitou outros 15 mil professores, no programa “Educando pela Diferença para a Igualdade”.
Mas ainda é pouco, num universo de 2,1 milhões de professores brasileiros.A professora Petronilha lembra que o primeiro Conselho Municipal de Educação a implementar a lei foi o de Belo Horizonte, e o primeiro em nível estadual foi o de Mato Grosso do Sul. E, muito antes da sanção dessa lei, a Secretaria de Educação da Bahia já tinha estabelecido o ensino da cultura negra nos currículos: “Mas são iniciativas ainda isoladas, que dependem muito mais do trabalho individual de algumas pessoas comprometidas. Se mudar o governo e as pessoas forem trocadas, tudo pode se perder. Essa questão não deve ser tratada como uma vontade de um governante. Ela tem de ser uma política de Estado”.
História de todos para todos
Para quem pensa que ações afirmativas como essa podem provocar o efeito contrário, ou seja, reforçar as diferenças entre as pessoas de cor de pele diferente, a especialista esclarece: “É preciso conhecer de forma adequada as raízes culturais e históricas da metade da população brasileira, pois quase 50% da população é negra e parda”.
Um exemplo desse desconhecimento é que ainda é muito comum crianças usarem apelidos discriminatórios em sala de aula sem saber. “Ao entenderem o que é ter uma raiz étnico-cultural, essas crianças aprendem que o modo como se relacionam com os colegas negros pode ser inadequado. A educação, assim, está ajudando a mudar posturas que muitas vezes nem os professores se dão conta de que são preconceituosas”, explica ela.
Por isso, a especialista vê com bons olhos a nova lei nº 11.465/08 - que acaba de ser sancionada pelo presidente Lula e substitui a Lei nº 10.639/03 - que dá o mesmo destaque ao ensino da história e da cultura dos povos indígenas. Todas as disciplinas, especialmente História, Geografia e Literatura, devem, a partir de agora, abordar a contribuição dos negros e dos indígenas para a formação da cultura brasileira.Para muitos professores, pode parecer que, na prática, isso vai significar mais trabalho, o que é equivocado:“Ações como essa não significam que uma etnia surja em detrimento de outra. É para falar de maneira correta de algo que é verdadeiro, das nossas raízes, que têm diversas origens, e que contribuíram de forma determinante para a construção da nossa unidade e identidade nacional”, conclui Petronilha.
Patrícia Costa - Editora de jornalismo do programa Nós da Escola, da Multirio.

Leia também
13/06/07 - Lei da cultura africana e afro-brasileira: combate à discriminação ou aumento da segregação?
05/02/08 - Documentos do Itamaraty revelam o anti-semitismo no governo Dutra
20/11/07 - Negros no Brasil morrem mais por homicídio
09/07/07 - Racismo na controversa UnB

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Reforço de peso para a leitura

Com uma longa trajetória na área da Educação e autora de livros didáticos para o ensino da língua portuguesa, Jeanete Beauchamp tem na formação de professores o principal foco de incentivo à leitura entre crianças e jovens no País. Atual diretora do Departamento de Políticas de Formação, Materiais Didáticos e de Tecnologias para Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) e mestra em Educação pela PUC-SP, Jeanete já dirigiu o Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental e a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, ambos do MEC, além de ter sido secretária de Educação dos municípios de Mauá e Embu das Artes (SP).

Panorama Editorial - Há um esforço por parte do governo federal no sentido de universalizar o acesso aos livros nas escolas e bibliotecas escolares. De que maneira esta ação contribui para melhorar o índice de leitura dos brasileiros? Que efeitos ela pode ter no desempenho dos alunos das escolas públicas, no que diz respeito ao nível de letramento, e na qualidade do ensino público nacional?

Jeanete Beauchamp - Vincular a qualidade da educação ao desinteresse pela leitura seria simplificar muito as coisas. A questão do baixo índice de leitura não pode ser considerada isoladamente, muito menos comparada aos níveis de outros países. O que é preciso levar em conta é que há diferentes realidades dentro de um mesmo país, e elas precisam ser tratadas de acordo com suas especificidades. Não é a qualidade da educação brasileira que é responsável pela "não-leitura", tampouco é a "falta de leitura" a responsável pela qualidade da educação. Há muitos outros fatores relacionados e muitas pesquisas dão conta disso. Não acreditamos que haja um desinteresse pela leitura, pelo contrário, se você perguntar às pessoas se gostam de ler a resposta será afirmativa. No entanto, é preciso combater as dificuldades em se efetivar a leitura, como o analfabetismo funcional, o acesso ao livro, o pouco incentivo à freqüência a bibliotecas públicas, o baixo número de bibliotecas e de livrarias no País e a própria formação do professor como leitor, entre outras. A questão mais importante a ser levantada é que, pela primeira vez, há um programa voltado para a educação infantil. É importante porque o comportamento leitor, o gosto pela leitura deve ser trabalhado desde os primeiros anos de vida de uma criança. Outra questão é que, também pela primeira vez, há um programa tanto de livros didáticos como de formação de bibliotecas escolares para o ensino médio. Entendemos também que o professor tem um papel muito importante como mediador de leitura, um dinamismo de forma que as crianças se dirijam às bibliotecas, retirando livros ou fazendo lá mesmo sua leitura. É preciso que esse estímulo inicial seja feito pelos professores, porque você pode até dotar uma escola com bibliotecas e acervos, mas sem ter alma.

PE - Com a ampliação do currículo do ensino fundamental de oito para nove anos, que deverá atingir toda a rede de ensino até 2010, o que tem sido feito para formar e estimular a formação de professores para a educação básica?

Jeanete - Temos um programa no MEC que se chama Pró-Letramento, de formação continuada, com duração de um semestre letivo, para professores dos anos iniciais do ensino fundamental nas áreas de alfabetização e linguagem e matemática. Nos módulos com os quais trabalhamos a formação dos professores de alfabetização e linguagem, há um ciclo voltado a essa questão da leitura, das bibliotecas, da organização dos livros na escola. É um programa que tem um largo alcance no País. Hoje, atende a 150 mil professores e deve crescer, pois registramos muitas solicitações de interessados em participar. Temos aqui um documento que se chama Política de Formação de Leitores. Ele é constituído de três publicações: Por uma Política de Formação de Leitores, Biblioteca na Escola e Dicionário em Sala de Aula. O primeiro é trabalhado com o histórico das ações que o MEC já desenvolveu na área de livro, leitura e biblioteca; trabalhamos com os indicadores de leitura na sociedade brasileira e na escola e estabelecemos nossos conceitos e princípios para a política de formação de leitores. Isto é importante porque o documento passou por discussões em várias regiões do Brasil. Acatamos as sugestões apresentadas pelos secretários municipais de Educação e pelos representantes dos Estados e elaboramos o documento. Tem por objetivo discutir o papel da escola na formação de leitores competentes, autônomos, e como o professor pode trabalhar para alcançar isso. Traçamos nossa política. Com o Biblioteca na Escola discutimos como os educadores podem organizar o acervo escolar e utilizá-lo em seu trabalho de formação de leitores. É uma referência para o professor trabalhar com os acervos, não especifi camente com cada obra, mas de maneira geral, com todos os acervos de literatura e de periódicos. No Dicionário em Sala de Aula explicamos como o MEC estabeleceu uma política para isso. É um trabalho para que o professor conheça o dicionário, como utilizá-lo na sala de aula e introduzir o aluno neste gênero, porque muitas vezes há uma compreensão de que o dicionário deve fi car só na biblioteca, só para consultas. Na medida em que encaminhamos acervos para cada uma das salas de aula, estamos sinalizando que ele deve ser usado nos exercícios e atividades que o aluno realiza ali. São políticas que convergem para a formação do leitor, para o trabalho com a produção de textos dos alunos.

PE - Como está o cronograma dos programas nacionais para compra de livros didáticos e dicionários? Há alguma mudança ou novidade nos critérios de seleção das obras?

Jeanete - Atualmente estamos entregando os acervos do PNBE [Programa Nacional Biblioteca da Escola] da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. O próximo será um PNBE para anos finais do ensino fundamental e para ensino médio. O que temos de novidade é que introduzimos neste ano, especialmente para o ensino fundamental, acervos de obras complementares. Vamos fornecer materiais para os dois primeiros anos do ensino fundamental e esses acervos vão contemplar as diferentes áreas do conhecimento: Ciências da Natureza e Matemática, Ciências Humanas e Linguagem e Códigos. Estas obras devem ser trabalhadas pelo professor para além do livro didático. São acervos que vão para a sala de aula e trabalham com os conteúdos presentes nos didáticos. Mas com uma diferença: não é PNBE, porque não são títulos de ficção e tampouco didáticos; são obras que estamos chamando de complementares, como mais uma frente para o estímulo à leitura. E como caracterizamos essas obras? Primeiramente, devem abordar as áreas do conhecimento de forma lúdica, com objetivos pedagógicos e conteúdos de interesse para o nível de escolarização das crianças que ingressam agora aos 6 anos. Devem ser projetos editoriais que motivem o interesse e despertem a curiosidade das crianças, usando linguagem verbal e recursos gráficos adequados aos alunos em fase inicial de alfabetização. Na verdade, queremos com isso ampliar o universo de referências culturais dos alunos nas diferentes áreas do conhecimento, assim como contribuir para ampliar e aprofundar suas práticas de letramento.

PE - Muitos especialistas argumentam que nem sempre os títulos escolhidos atendem às especificidades de cada escola no que diz respeito à cultura e à realidade locais. O que pode ser feito para minimizar este problema?

Jeanete - Temos, nos processos de formação, primeiro a necessidade de que o professor faça essa opção de forma autônoma. O professor não deve sofrer pressões de nenhum tipo nessa seleção. Os livros devem estar de acordo com o projeto político-pedagógico da escola e dos professores. Oferecemos, depois do processo de avaliação, um menu com obras para os professores e eles podem, evidentemente, escolher aquelas que estejam mais de acordo com o seu projeto de trabalho. Mas é importante que o coletivo de professores faça da escolha dos livros um momento também de reflexão de sua prática, de seu projeto pedagógico, do seu dia-a-dia escolar. Enfim, é muito importante que ele avalie autonomamente as obras resultantes do processo de avaliação. O fato de algumas escolas receberem livros diferentes dos escolhidos são casos isolados, até porque o processo permite uma segunda opção, feita pelos próprios professores.

PE - O MEC anunciou no início de março que as editoras interessadas em participar do Plano Nacional do Livro Didático de 2010 devem seguir as normas do novo acordo ortográfico da língua portuguesa. O que motivou essa exigência? Isso pode alterar a etapa de inscrições?

Jeanete
- Isso aconteceu porque o PNLD vai selecionar obras a partir de 2010. Por isso, há uma necessidade de que elas já contemplem as alterações previstas pela reforma ortográfi ca. Com a aceitação do acordo por parte de Portugal, não há mais impedimentos para que ele entre em vigor. Além de serem distribuídos em 2010, esses livros serão usados por três anos consecutivos, até 2012. Se não fi zéssemos esta exigência agora, teríamos de promover esta alteração só em 2013. É preciso pensar no ano da distribuição dos livros e na duração de utilização deles.

Panorama Editorial. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, abr. 2008.

O texto integral da entrevista está disponível no sítio da revista. Pode ser lido e/ou copiado mediante cadastro gratuito feito no próprio sítio:
www.panoramaeditorial.com.br/edicoes.php?id=45

sábado, 26 de abril de 2008

Curso gratuito sobre história paulistana

CIEE promove curso sobre história paulistana
24/04/2008

O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) promove, a partir de 8 de maio, o 5º Curso de História de São Paulo, coordenado pela professora doutora do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) Ana Maria de Almeida Camargo. As aulas serão realizadas no Teatro CIEE (Rua Tabapuã, 445, Itaim Bibi, São Paulo/SP, das 9h30 ao meio-dia.

Ministradas sempre às quintas-feiras, pela manhã, até o dia 17 de julho, as 12 aulas terão duração de 2h30 cada e serão precedidas de café da manhã. O curso é totalmente gratuito, voltado para estudantes, professores, historiadores e demais interessados.

Entre os professores convidados estão Helena Katz (PUC-SP), Sergio Casoy (ECA-USP), Fernando Gurgueira (FAAP), Cacá Machado (Anhembi Morumbi), entre outros.

O programa vai tratar das manifestações culturais e dos meios de comunicação na capital paulista: teatro, cinema, música, ópera, televisão, rádio, circo e imprensa humorística. Cada aula conta com um docente específico, especialista nas respectivas áreas de pesquisa.

As inscrições devem ser feitas, a cada aula, pelos telefones (11) 3040-6541 e (11) 3040-6542 ou pelo site www.ciee.org.br no link institucional/agenda de eventos. Vagas limitadas.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Mensagem enviada por Denise Camargo, para a Faber-Castell, fabricante, entre outros produtos, de lápis para colorir.
Leiam e ajudem a divulgar essa afronta que a empresa está praticando em relação às práticas racistas e excludentes no que diz respeito aos negros, indo contra, inclusive, à Lei 11.465/08, que altera a Lei 10639/03.
Gostaria de contar-lhes a seguinte história: Quando meu filho ingressou na escola de educação infantil, chegou aqui em casa certo dia dizendo que queria ser "cor de pele". Gostaria de informar que somos negros. Meu marido é branco. Nosso filho, mestiço. Não conseguimos entender o desejo dele, pois ele já era cor de pele - foi o que respondi. "Filho, você é cor de pele. Cor de pele negra".
Esse tema rondou a casa por semanas até que um dia fui à escola descobrir o que estava havendo. E, para minha surpresa, o fato era uma mistura de incompetência para a diversidade brasileira vinda da própria professora e, muito fortemente, saída também da Faber-Castell, que tem na sua caixa de lápis de 36 cores uma cor chamada PELE. Que cor é essa? Um salmão, rosa-claro, rosinha a que o fabricante denomina PELE. Pele de quem, me pergunto? Pele branca, é claro. Não seria legítimo em um país de maioria negra que houvesse também uma cor na caixa de lápis para quem não tem pele branca? Ressalto que,sim, embora as estatísticas camuflem esse dado, o Brasil é um país de maioria negra. E posso informar bibliografia consistente sobre o assunto, se necessário.
Ou insiram uma nova cor, que contemple a pele negra, ou mudem o nome dessa, por favor. Meu filho está com sete anos agora e já faz tempo que sabe que ele é "marronzinho", como ele mesmo dizia. Mas entendeu nesse exato momento em que quis ser "cor de pele" que vocês o submeteram a um preconceito disfarçado. Camuflado em uma caixa de lápis que vemos nas propagandas cantantes, coloridas, sorridentes da marca.
O fato é que desde essa época - e faz tempo! tento por este canal, sem sucesso, um contato com a Faber-Castell. O fato é que semana passada, fazendo uma compra pude ver que a cor PELE continua na caixa de lápis fabrica por vocês. Quero uma resposta e providências em uma semana, por favor.
Porque hoje acordei cansada de ser ignorada. Aproveito para informar que, desta vez, usarei todos os recursos necessários para que minha reclamação atinja os canais destinados à ela, bem como instituições que se preocupam com a questão no Brasil.
Atenciosamente, muito atenciosamente,
Denise Camargo

segunda-feira, 14 de abril de 2008

150 municípios paulistas adotam apostilas em escolas públicas

Pelo menos 690 mil alunos do infantil e fundamental de 300 cidades no País usam material de grupos privados
Por Renata Cafardo e Simone Iwasso
Pelo menos 150 municípios de São Paulo contratam sistemas apostilados privados para as escolas públicas de suas redes, o que representa 23% das 645 cidades paulistas. Há ainda outros 150 municípios no País com esse tipo de contrato, totalizando 300.
O levantamento foi feito pelo Estado com informações fornecidas por sete das maiores empresas que atuam na área, entre elas Objetivo, COC e Positivo. No Brasil, são 690 mil alunos da educação infantil e fundamental de escolas públicas usando materiais de grupos particulares.
A entrada dos chamados sistemas de ensino no setor público é recente. Eles têm crescido nos últimos anos, chegando a triplicar o total de cidades atendidas.
Fica claro o predomínio da modalidade em São Paulo, apesar de nem todos os grupos serem do Estado. As cidades gastam juntas, no mínimo, R$ 100 milhões por ano para receberem material didático e uma assessoria, que inclui capacitação de professores, portais interativos, avaliações e ajuda na gestão escolar.
Esse pacote - que vai além da apostila dividida por bimestres e atividades programadas - é o diferencial apontado por quem defende os sistemas de ensino. Ele se contrapõe ao livro didático, muitas vezes considerado abrangente demais e complexo.
A opção das prefeituras é polêmica. As mesmo tempo em que recebem questionamentos de educadores por adotar um sistema que levaria à padronização do ensino, as redes públicas apostiladas têm obtido resultados positivos em avaliações do Ministério da Educação (MEC).
Das dez cidades de São Paulo com o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), sete usam materiais apostilados.
O Ideb é hoje o indicador oficial mais importante da educação brasileira e leva em conta rendimento dos alunos em exames nacionais, taxa de repetência e evasão escolar.
Das dez piores no ranking do Estado, nenhuma tem contrato com sistemas de ensino privados. “Temos renovado os contratos porque os professores pedem. Eles acham que melhorou o trabalho em sala de aula e não querem mais usar o livro didático”, diz o prefeito de Dois Córregos, na região de Bauru, Luiz Antonio Nais. A cidade é a quarta colocada no ranking paulista das melhores redes.
O Estado consultou ainda o Ideb de 46 redes municipais atendidas por sistemas de ensino - os grupos não informam os nomes das 300 cidades. Todas elas têm índice superior à média nacional, de 3,6 pontos.
Também usam sistemas apostilados as três representantes paulistas que aparecem em um relatório recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do MEC sobre os 37 municípios com os melhores exemplos de escolas públicas.
Atualmente, há pelo menos 13 grandes grupos que atuam no mercado de sistemas de ensino: Objetivo, COC, Positivo, Expoente, Anglo, Pueri Domus, Uno, Ser, Ético, Etapa, Poliedro, Pitágoras e FTD. Os seis últimos ainda não atuam em escolas públicas, mas todos informaram à reportagem que têm planos de ingressar nesse mercado em breve.
Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, os sistemas de ensino não são responsáveis sozinhos pelo bom rendimento dos alunos em exames nacionais. “Vários fatores influenciam, como número de alunos em sala de aula, participação da comunidade, avaliações”, diz. Segundo ela, os grupos privados ganham espaço nos municípios em que a formação do professor é precária. “O professor inseguro precisa de receitas. É como cozinhar. Quando a pessoa é iniciante, não larga a receita. Depois, vai ganhando autonomia, sabedoria e nem olha mais a receita.”
O MEC não tem um estudo sobre quais prefeituras usam apostilas. Por isso, seu Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) continua comprando exemplares e enviando gratuitamente aos municípios. Foram R$ 661 milhões gastos no último ano com livros didáticos.
Enquanto isso, as prefeituras usam o dinheiro do Fundeb - fundo que reúne e redistribui para Estados e municípios a verba da educação, segundo um valor por aluno/ano - para contratar os sistemas privados.
Isso é feito quase sempre por meio de licitação. O preço cobrado vai de R$ 150 a R$ 250, por aluno ao ano. Em São Paulo, é o equivalente a 10% do valor por aluno repassado pelo Fundeb. “É um gasto duplicado”, diz Pilar.
As cidades que optaram por contratar sistemas privados são quase sempre de médio ou pequeno porte e não chegam a 500 mil habitantes. Em São Paulo, estão em todas as regiões: de São Sebastião, no litoral, a Dolcinópolis, no extremo-oeste; de Santana do Parnaíba, a 58 km da capital, a Descalvado, no norte do Estado.
Os sistemas chegaram também a escolas municipais de Goiás, Paraná, Maranhão. “O conhecimento precisa ser construído a partir da realidade do aluno. Mas a apostila é sempre igual, não importa que as redes sejam diferentes”, diz a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ângela Soligo.

sábado, 12 de abril de 2008

A política das provas, provinhas e provões

Ivan Valente*


O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) existe desde 1996. Em março, foram divulgados os resultados das provas de Língua Portuguesa e Matemática do exame aplicado no ano passado. Alguns resultados que o Saresp 2007 mostrou:

- na 1ª série do ensino fundamental, 48,8% dos alunos não escrevem com ortografia regular. Redigem com correspondência sonora alfabética;

- na 3ª série do ensino médio, cerca de 80% estão abaixo do nível considerado adequado pela Secretaria Estadual de Educação. Na 8ª série do ensino fundamental, 70% estão abaixo do adequado;

- nas 4ª e 8ª séries do ensino fundamental, o percentual dos alunos com desempenho em matemática “abaixo do básico” é de cerca de 45% e 50%, respectivamente. No ensino médio, este percentual é de 71%;

- na média geral, mais de 80% dos alunos não atingiram os conhecimentos matemáticos esperados pela própria Secretaria da Educação.

Portanto, ao contrário do que propagandeia o governo estadual, algo está muito errado na Educação que temos dado às crianças do nosso estado. A gestão Serra afirma ter encontrado a “salvação da lavoura” para os problemas do ensino em São Paulo. Em diversas declarações à imprensa, a secretária Maria Helena Castro exaltou a política baseada na concorrência entre escolas e entre professores, com a realização de avaliações sucessivas e superpostas – provas, provinhas e provões – e o posterior oferecimento de bolsas, bolsinhas e bônus de baixo valor, concedidos de acordo com o resultado dos exames. Para ela, a premiação do mérito, aliada à análise de indicadores de gestão, de taxas de repetência e evasão e de ausência de servidores, trará as respostas para a qualidade do ensino em nosso estado.

A secretária escanteia, desta forma, elementos fundamentais no debate sobre os rumos da Educação. Para ela, por exemplo, é irrelevante se uma sala de aula do ensino fundamental ou médio tem 25 ou 60 alunos. Maria Helena considera esta questão um mito da Educação a ser eliminado, ignorando o recomendado por instituições nacionais e internacionais, como a UNESCO, que estabelecem em 35 o número máximo de alunos por sala de aula.

Da mesma forma, nossas escolas públicas não precisariam de mais recursos, nem o professorado, de melhorias salariais. Nada disso levaria a um aumento no aprendizado. Tudo não passaria de uma “ladainha repetitiva”, “sindicalista, ultrapassada e corporativa”. Afinal, nossos educadores ganham bem e os recursos são suficientes.

Ou seja: ao afirmar que é irrelevante o número de alunos por sala de aula e que melhores salários e condições de trabalho não são determinantes nas boas condições de aprendizagem, achou-se o culpado para a nossa péssima qualidade de ensino: o professorado. A solução apontada, então, é premiar os servidores mais “talentosos” e “esforçados” e as escolas mais “promissoras”, medidas pelos sucessivos exames aos quais as instituições são submetidas.

Países como Chile e Estados Unidos já revelaram os efeitos maléficos deste tipo de política. Um deles é o afastamento dos melhores professores das escolas que atendem a alunos mais carentes, que apresentam piores desempenhos neste tipo de avaliação. Da mesma forma, a busca por escolas com melhores resultados – que nem sempre significam melhor qualidade no ensino – tende a isolar os estudantes com mais dificuldades em escolas que já sofrem um conjunto de deficiências.

O resultado é o aumento permanente na distância entre os desempenhos obtidos por alunos de uma mesma rede de ensino. Falhas na gestão e professores que não agem de acordo com sua função de servidor público devem ser combatidos. Mas em absoluto constituem o cerne do nosso problema educacional.

A ilusão de que a comparação e seleção levarão à produção de qualidade é um equívoco pedagógico que pode colocar nossas instituições no perigoso caminho da geração e aumento da exclusão.

Os tucanos estiveram oito anos no governo central e governam São Paulo há 13. FHC vetou o dispositivo do Plano Nacional de Educação que elevava o gasto público com educação de 3,7% para 7% do PIB. Criaram um pseudo-sistema nacional de avaliação para esconder a política de corte dos recursos. Seu objetivo sempre foi diminuir o papel do Estado e atribuir-lhe papel apenas regulatório.

As políticas de fundos para a educação de FHC e de Lula não passam de socialização da miséria. Alguém acredita que o suplemento da União a Estados e Municípios, de apenas R$ 1 bilhão ao ano de recursos novos nos próximos quatro anos, para um universo de 50 milhões de estudantes da educação básica, resultará em algum impacto real na qualidade de ensino? Podemos nos fiar que a instituição de um piso salarial para o magistério brasileiro de pouco mais de R$ 450 por 20 horas semanais estimule a carreira? Enquanto isso, o país desembolsa R$ 160 bilhões por ano em juros da dívida pública.

Somente o investimento pesado na formação e remuneração dos docentes e na infra-estrutura das escolas resultará na melhora qualitativa na educação. É esta a política que precisa ser promovida com urgência em São Paulo, sob o risco de comprometermos em definitivo o futuro de uma parcela significativa de nossa população.

*Ivan Valente é deputado federal pelo PSOL/SP, professor e membro da Comissão Permanente de Educação da Câmara dos Deputados.
Publicado na revista Época


terça-feira, 8 de abril de 2008

Vitória: Assinada em SP a Carta Compromisso com a Sociologia no Ensino Médio

Secretaria da Educação Discursa no
Ato Compromisso com a Sociologia

Em um concorrido ato realizado na última terça-feira, dia 8 de abril, a partir das 11h30, que contou com a presença de cerca de 50 pessoas, entre autoridades, profissionais e estudantes, a Secretária da Educação do Estado de São Paulo, Profª e Socióloga Maria Helena Guimarães Castro, assinou de público a Carta Compromisso com a Sociologia no Ensino Médio no Estado de São Paulo.

Apesar deste ano termos ficado sem as aulas em nossas escolas, em 2009, todas as 3,7 mil escolas de ensino médio públicas terão pelo menos duas aulas em pelo menos uma das séries em São Paulo. A secretária anunciou de público ainda a realização de concurso para 2009. Estimamos que isso possa abrir pelo menos 1,2 mil vagas de professor de Sociologia (salário inicial de 1,2 mil reais para jornada de 20 horas/aula semanais). Uma verdadeira vitória dos professores e do nosso Sindicato dos sociólogos, que foi muito elogiado na solenidade.


Compromisso com a Sociologia
Fizeram uso da palavra, além do presidente do Sinsesp, Prof. Lejeune Mato Grosso, e Prof. Fábio Santos de Moraes (Secretário-geral Apeoesp) e Prof. Douglas Izzo (Diretor da Apeoesp e do Sinsesp), o Prof. Dr. Amauri César Moraes (Sociólogo e da Faculdade de Educação da USP e um dos autores das OCNs de Sociologia); Prof. César Calegari (Sociólogo, Secretário da Educação de Taboão da Serra e relator do parecer 38/06 eu obriga o ensino de S&F nas escolas médias no país do CNE); Deputado Simão Pedro (do PT/SP, filósofo e nosso sociólogo honorário) e Deputado Mauro Bragato (Sociólogo e deputado do PSDB, antigo apoiador da luta pela Sociologia no Ensino Médio).

Todos foram muito aplaudidos pelos presentes. Os estudantes, que representavam pelo menos uma bancada de 20 pessoas, vieram da USP, da ESP e da UniSantana. A Secretária, ao discursar foi enfática na defesa da medida, dizendo que isso iria qualificar e muito nosso Ensino Médio paulista e que ajudaria os nossos estudantes e terem em suas mãos instrumental que lhes possibilitassem melhor entender a realidade em que vivem. Comprometeu-se em estudar de imediato a viabilidade da realização de concurso o mais breve possível e que as atribuições de aula, que este ano será já agora em novembro, deverão ter Sociologia em todas as escolas. Isso vai fortalecer os 15 cursos de CS existentes no Estado, outros podem abrir e os estudantes poderão de imediato iniciar a sua docência em Sociologia, ainda que como temporários. Os profissionais já formados poderão, em breve, prestar concurso público para serem titulares de cargos. O último concurso realizado no Estado ocorreu há 14 anos, em 1994.

Avaliamos que essa foi uma vitória do Sinsesp e da Apeoesp que, juntos, há mais de 11 anos, lutam pela implantação dessa medida. Mesmo que no Brasil todas as escolas médias já possuam ambas as disciplinas, a ausência em SP torna parcial a nossa vitória nacional, que agora se coroa de uma grande vitória dos sociólogos e dos professores paulistas, que souberam compreender a importância do ensino dessas disciplinas à nossa juventude. Uma grande vitória o Sinsesp. Parabéns a toda a diretoria da atual gestão e de todas as gestões passadas que deram a sua imprescindível contribuição para essa vitória que hoje se concretiza.


Em breve teremos um sociólogo efetivo na rede, professor titular de cargo, que será o Prof. Walmir Celso Halembeck, atuando na equipe central da CENP de currículo. Em breve organizaremos com a Apeoesp e com a SBS, um Seminário na USP sobre ensino de Sociologia com um curso simultâneo de 30 horas, para justificarmos a liberação de professores da rede para dele participarem.

Esperamos para o final do ano já termos um indicativo de uma proposta curricular para o ensino em 2009. Esperamos contar com o apoio do Prof. Amauri nesse evento da USP e com a própria Faculdade de Educação e seu Departamento de Metodologia, bem como com colegas do departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Esse esforço visa recuperarmos um atraso de muitos anos e recuperarmos o terreno perdido nesses anos todos. Vamos vencer. Mais uma vez, parabéns a todos que deram a sua parcela de contribuição para essa nossa luta, inclusive em vários estados brasileiros.


Veja como Fazer seu Registro Profissional

Os sociólogos paulistas devem fazer o seu registro profissional para exercerem a profissão, segundo a Lei 6.888/80. Para isso devem se dirigir à DRT/SP, que fica na Rua Martins Fontes, nº 109, 2º andar, sala 203, Centro (próximo ao prédio do Diário de São Paulo e da Biblioteca Mário de Andrade, esquina com a Avenida São Luís) e levar:

• Cópia simples de seus diplomas de bacharel devidamente registrado no MEC, frente e verso acompanhado do original que deve ser verificado pelo próprio funcionário da DRT;

• Cópia da CTPS da página da foto e do verso, da qualificação pessoal, bem como a própria carteira original para ser conferida;

• Cópias do RG e do CPF, cópias simples acompanhados dos originais, para serem conferidos na hora pelo funcionário encarregado.

• Preencher um requerimento fornecido pela própria DRT

Após isso, esperam-se 30 dias úteis e no mesmo dia o colega sociólogo já sai sabendo exatamente a data em que poderá pegar a sua carteira de trabalho devidamente carimbada com o número de seu registro profissional.

Atenção: os recém formados também podem se registrar, mesmo sem o diploma, desde que levem o certificado de conclusão de curso, de colação de grau, que contenha todos os dados do decreto e portaria de reconhecimento do curso que fez o bacharelado em Ciências Sociais, bem como as cópias da CTPS e demais documentos pessoais.


Contribuição Sindical: pagamento até 30 de Abril

Mesmo tendo passado o prazo legal para o pagamento da contribuição sindical de 2008, estas prosseguem e podem ser feitas até o dia 31 de março. Os nossos colegas que perderam o prazo, não tem problema, podem pagar ainda este mês, tirar Xerox e enviar ao RG da empresa onde trabalham que na folha de pagamento de março, cujo salário sai no quinto dia útil de abril, não deve ser descontado para outra entidade sindical, pois o colega já esta em dia com a contribuição sindical, pois pagou para o seu sindicato de sociólogo.

Nosso site, logo no topo da página, tem um botão escrito "Contribuição Sindical de 2008". Clique nesse botão e preencha os seus dados como profissional liberal, 2008. O valor este mês tem acréscimo de 10% de multa e 1% de juros de mora, conforme determina a CLT, sendo que o boleto gerado, portanto, será de R$88,80 e pode ser pago em qualquer agência bancária e casas lotéricas. Veja o endereço.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Campeã do Enem impõe rigor a docente

Melhor colégio estadual da capital paulista no exame a estudantes já mandou para psiquiatra professores que faltaram muito

Diretora do Rui Bloem afirma que faltam recursos para a unidade; apesar de liderar entre estaduais, foi a 335ª na lista geral da cidade

FÁBIO TAKAHASHI

DA REPORTAGEM LOCAL

"Os nossos alunos mais rebeldes nos chamam de nazistas", conta a diretora da escola Rui Bloem, Maria Cleuza de Oliveira Martins, 64. A unidade obteve a melhor nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2007 entre os colégios estaduais da capital paulista. A reclamação dos estudantes, diz a diretora, decorre do sistema que a escola adota: disciplina para alunos e professores.

Segundo a diretora, isso contribui para que a escola, em Mirandópolis (zona sul), seja organizada e tenha um bom ambiente de trabalho. Ambiente esse complementado pelo aspecto da unidade, com paredes impecavelmente pintadas e jardins bem aparados.

A conservação, porém, vem em grande parte dos recursos dos próprios pais, diz a diretora. Do governo, chegam cerca de R$ 30 mil para manutenção ao ano. Só em festas, a APM (associação de pais e mestres) arrecada cerca de R$ 40 mil. Para a diretora, a falta de investimentos é o pior problema da escola -mesmo sendo a melhor estadual da capital, no ranking geral da cidade (incluindo particulares e técnicas) a Rui Bloem ficou em 335º lugar.

A secretaria da Educação da gestão José Serra (PSDB-SP) afirma que aumentou em 80% a verba de manutenção das escolas entre 2007 e 2008 e que a Rui Bloem receberá um investimento de R$ 200 mil. Leia abaixo trechos da entrevista com Maria Cleuza.

FOLHA - O que explica a 1ª colocação da escola entre as estaduais?
MARIA CLEUZA DE OLIVEIRA MARTINS
- Temos uma escola limpa, organizada, com ajuda dos recursos da APM. Outro ponto importante é o compromisso. Tenho professores que são efetivos há muito tempo. Também tenho pais que cobram muito dos estudantes e da escola.
O que ajuda muito aqui é a disciplina. Tem horário para entrar. O aluno deve trazer o material certo para cada aula.
Se não o faz, a gente chama o pai imediatamente. É um trato "tête-à-tête". Os estudantes têm "provões" todo semestre.
Tem aluno que vem de escola particular e fala: "Pô, escola do Estado desse jeito? Só tirei nota vermelha". Aqui, são de 42 a 45 alunos por sala. Não dá tempo para brincadeira. Os nossos alunos mais rebeldes chamam a gente de nazista. Mas o que queremos é disciplina.

FOLHA - Como a escola mantém professores efetivos, já que os salários são iguais em toda a rede?
MARIA CLEUZA
- Acho que o professor sabe que pode contar com a direção e também há um ambiente agradável de trabalho. Já o aluno reflete o seu comportamento, pois sabe que a equipe gestora é extremamente exigente, vai chamar o pai se aprontar alguma coisa.
E se a família não cooperar, encaminhamos para o conselho tutelar. Da mesma maneira que encaminho professor para psiquiatria. Hoje existe a falta médica [sem desconto do salário], desde que seja em dias alternados. Assim, o professor pode trabalhar terça e quinta.
Segunda, quarta e sexta ele pode arrumar um atestado, às vezes até compra, e tem o dia abonado. Aqui, se começar com atestado, eu dou uma guia e peço uma avaliação médica. Já fiz isso com quatro professores.

FOLHA - Os salários são baixos?
MARIA CLEUZA
- Ganho cerca de R$ 1.200 como diretora. Como professora aposentada, mais R$ 1.000. É pouco.

FOLHA - Quais são as grandes dificuldades da escola?
MARIA CLEUZA
- Financeira. Com uma escola deste tamanho, só agora ganhamos um datashow. Um para três mil alunos. Segunda-feira [amanhã] começa o curso técnico de administração de empresas [novo projeto do governo, oferecido a parte dos alunos do ensino médio], e não estamos preparados. O que foi dito é que esse curso seria 50% online e 50% presencial. O curso começa com giz, apagador e saliva.

FOLHA - E sala de informática?
MARIA CLEUZA
- Os computadores são muito ultrapassados. Quando o governador veio aqui [em fevereiro, Serra foi à escola lançar um programa de transferência de verbas às escolas], foi feita a parte elétrica. Ficaram de mandar computadores condizentes. Dez computadores para 40 alunos não dá. E nossos computadores são "tartaruga futebol clube", de 95, 98.

FOLHA - O governo anunciou diversas medidas para 2008, como implementação de um currículo, recuperação para todos os alunos nos primeiros 40 dias entre outras. As escolas conseguem absorver tudo isso?
MARIA CLEUZA
- Acho que não. Deveria consultar as bases antes de implementar. Senão dá impressão de imposição e, assim, não há garantia que o professor vá implementar o projeto na sala de aula.
Nada deveria ser imposto e ainda mais com pouco tempo de preparação. O jornal, por exemplo [refere-se à recuperação inédita implementada pelo governo, cujos conteúdos foram apresentados por meio de jornais], chegou na véspera do planejamento [pedagógico].
Esse material trouxe algumas reclamações. Professores entenderam como engessamento dos seus trabalhos. Discordo. O que acabou foi a soberania. O professor usa sua didática, mas ele trabalha num sistema, com regras que precisam ser seguidas. A rede estadual é muito grande e precisa de parâmetros. Cada um fazia o que queria, planejava o que queria.
Para a gente não trouxe muita novidade, porque já trabalhávamos com um currículo, que se assemelha em muito ao que a secretaria estabeleceu.

Cartilha que ensina professor a lecionar está cheia de erros

DIÁRIO DE S.PAULO 6 de abril de 2008

Aberrações como confundir século com milênio e ignorar o nome dos países que já pertencem à União Européia não causariam surpresas se fossem respostas de estudantes da rede pública em algum teste. Esses erros, no entanto, estão presentes em duas cartilhas do governo do estado, destinadas a ensinar os professores a darem aulas. Os guias foram lançados pela Secretaria de Estado da Educação há três dias.

O jornal Diário de S.Paulo teve acesso aos cadernos de História, da 5 série, e Geografia, da 8, ambos destinados às aulas do primeiro bimestre do ano letivo. Professores da rede estadual comentaram os erros, mas pediram anonimato.

Para a pergunta: "O século XXI começou no 2001 e terminará em qual ano?", a cartilha do governo aponta como resposta correta a alternativa "d", ano 3000. "Confunde século com milênio", afirma um professor. A resposta certa é ano 2100, que não consta em nenhuma das cinco alternativas do guia.

Outra questão que, na opinião de docentes da rede estadual, é mal elaborada e induz ao erro está na página 26. A pergunta lembra que um arqueólogo batizou seu achado (esqueleto pré-histórico) de Lucy em homenagem à música "Lucy in the sky with diamond", dos Beatles. Um brasileiro, ao encontrar o primeiro esqueleto pré-histórico de mulher, também homenageou uma música. A questão pede o nome do esqueleto. "A comparação com a música dos Beatles leva o aluno ao erro porque a música 'Luiza', de Tom Jobim, é a mais conhecida. E a alternativa correta é Luzia", diz um docente.

Geografia

Os mapas do caderno de Geografia trazem como referência a quarta edição Atlas Geográfico Escolar, do IBGE, de 2007. Mas, no mapa sobre os países pertencentes à União Européia (UE), a cartilha erra feio ao colocar Romênia e Bulgária como "futuros membros". Ambos fazem parte do bloco desde o ano passado. Destacados como "novos membros", em rosa, estão sete países que integram a UE desde 2004. A República Tcheca, que também aderiu em 2004, é destacada em amarelo, como membro atual. "Todos os países que integram a União Européia são membros atuais. Não dá para entender essa divisão", comenta um professor da rede.


Outros dois erros graves estão no mapa da página 18. A Rússia, que tem parte de seu território na Ásia e parte na Europa, aparece integralmente como país asiático. A Eritréia, país que se separou da Etiópia, em 1993, não existe no mapa da cartilha.


Comparação leva docentes a suspeitarem de plágio

Professores de história da 5 série da rede estadual de ensino, que usam o livro didático "História Temática, Tempos e Culturas", da Editora Scipione, suspeitam que trechos da obra foram plagiados pela cartilha do governo estadual. O livro, aliás, é distribuído gratuitamente pelo governo federal e aprovado pelo Ministério da Educação e Cultura.


Segundo os apontamentos dos docentes ouvidos pelo Diário, um trecho da página 16, do caderno de história, é praticamente idêntico ao da página 42 do livro didático: "Por volta do ano 100 a.C., acreditava-se que sete astros giravam em torno da Terra. Essa ordem determinou a denominação dos dias da semana para os romanos", é o que está no caderno. No livro, o trecho é: "Por volta do ano 100 a.C., acreditava-se que sete astros giravam em torno da Terra. Seus nomes em latim são Saturnus, Sol, Mars, Mercurius, Jupiter, Venus e Luna. Essa ordem determinou a denominação dos dias da semana para os romanos".


Também há semelhança entre a questão três da cartilha de história, na página 17, que fala sobre o calendário judaico, e o mesmo assunto abordado na página 46 do livro didático.


Os professores ouvidos pelo Diário não detectaram, até agora, cópias suspeitas no guia de Geografia da 8 série.

A secretaria negou a cópia dos textos. "A pasta não recebeu qualquer reclamação de editora ou órgão público. Os guias foram elaborados por cerca de 40 educadores, a maioria deles autores de outros livros. Os trechos citados são diferentes dos que estão no livro indicado pelo Diário de S. Paulo e são de domínio público, contidos em qualquer livro de História", diz nota enviada pela pasta. O Diário entrou em contato com a Editora Scipione por meio da assessoria, mas não obteve resposta sobre o assunto.


quarta-feira, 26 de março de 2008

MANIFESTO DE REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES DA SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SP

A Egrégia Congregação da Faculdade de Educação da UNICAMP, em sua 57a Reunião Extraordinária de 03 de março de 2008, tomou ciência das declarações da Professora Maria Helena Guimarães de Castro, atual Secretária de Estado da Educação de São Paulo, publicadas na revista VEJA no 2047 de 13 de fevereiro de 2008 e no jornal Folha de S. Paulo de 25 de fevereiro de 2008, referentes a diversos temas concernentes a sua pasta, tais como a situação da educação paulista, a formação de professores, a dinâmica administrativa e pedagógica das escolas de nível fundamental e médio, os baixos salários e as degradantes condições de trabalho de muitos professores do magistério público entre outros. Esta Congregação vem manifestar publicamente seu veemente REPÚDIO às referências arbitrárias e levianas feitas pela Sra. Secretária, particularmente àquelas endereçadas às instituições públicas de formação de professores de São Paulo, nominadamente contra as Faculdades de Educação da USP e da UNICAMP.

A Sra. Secretária desferiu sérias acusações contra esta conceituada unidade acadêmica, produtora de pesquisas referenciais para a educação paulista e brasileira e destacada agência social de formação de educadores e de professores para a educação básica e superior ao longo de mais de 35 anos. A Faculdade de Educação da UNICAMP apresenta ainda legitimada atuação na Região Metropolitana de Campinas, no Estado de São Paulo e no país, com projetos e cursos de pleno compromisso com os desafios sociais da educação e da escola públicas.

Esta Congregação REPUDIA também a inconsistente nominação de má-fé com que a Sra. Secretária agride esta Faculdade e as Faculdades de Educação em geral, inculcando-lhes a pecha de espaços voltados “para assuntos exclusivamente teóricos, sem nenhuma conexão com as escolas públicas e suas reais demandas”, que prestam “desserviço” e retiram o foco de questões centrais, e destacando sua ameaçadora vontade de fechar e acabar com tais instituições, seus cursos, projetos e programas de formação.

REPUDIA, da mesma forma, o conjunto de irrisórios argumentos e insólitos dados apresentados pela Sra. Secretária para caracterizar e analisar a realidade da educação e da escola pública paulistas, no tocante à questão salarial dos professores, à organização do trabalho pedagógico, à gestão e administração de recursos e à resolução de problemas institucionais. Esta Congregação considera que tais opiniões, se foram fidedignamente transcritas, revelam uma superficial leitura da realidade educacional e escolar, uma estreita e precária análise de cunho privatista, com acentos autoritários e acusatórios, não condizentes com a natureza e importância do cargo e função pública que a Professora Maria Helena Guimarães de Castro ocupa no corolário da gestão pública estadual paulista.


Congregação da Faculdade de Educação da UNICAMP, 03 de março de 2008.