domingo, 24 de fevereiro de 2008

Em SP, racismo se aprende na escola!

Em SP, racismo faz parte do curículo obrigatório das escolas públicas. A pérola branca abaixo foi retirada de um material impresso distribuido a todos os alunos da rede pública estadual chamado Jornal do Aluno , 1ª Série, ensino médio, página 13, Aula 6.

"Você já reparou que, nas danças originárias da África, a postura dos dançarinos é curvada, olhando para baixo? E, que nas danças européias, a postura é ereta, ombros para trás, nariz empinado?...As danças características de cada povo expressam sua cultura..."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Petição on line contra a medida arbitrária de Kassab que extingue 4 bibliotecas públicas na cidade de São Paulo

Mensagem do professor Edmir Perroti:
*************

Estou encabeçando um abaixo-assinado pedindo a revogação do Decreto 49172/2008, do Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que extingue 4 Bibliotecas Públicas da cidade. Caso concordem, peço que assinem e enviem a todos os conhecidos. O Conselho Regional de Biblioteconomia- CRB-8- estará recebendo até 20.02 para encaminhar aos canais competentes todos os abaixo-assinados que chegarem a eles.

Os passos para a assinatura são os seguintes (pode parecer complicado, mas não é)

1) Clique no endereço abaixo:
http://www.gopetition.com/online/16989.html

2) Leia a mensagem. Clique em "sign the petition" (= assine a petição). Assim que aberto, complete os dois dados obrigatórios: nome (first name) sobrenome (last name)

Os demais dados são opcionais (e-mail, endereço, cidade etc). Você pode fazer um pequeno comentário ("short comments"). É bom eestimula os outros que receberem.

3) Digite o código de segurança que aparece na página aberta (letras e números coloridos)

4) Clique em "sign" (= assinar). Pronto, seu nome estará inscrito no abaixo-assinado

5) Para mandar para outras pessoas:
clique em "tell a friend" e mande o e-mail que se abrirá, solicitando que assine e divulgue para outros.

Abraço do Edmir Perrotti

Texto da petição:
É preciso tomar conhecimento, manifestar-se e, se puderem, divulgar protestos. O Exmo. Sr. Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, apoiado por alguns de seus secretários, dentre eles- pasmem!!!- o da Cultura, Sr. Carlos Augusto Calil, com uma só canetada, na calada da noite, às vespéras do carnaval, extinguiu 4 tradicionais bibliotecas públicas da cidade. E, para piorar, seu decreto tenta despistar a extinção. Anuncia que tais bibliotecas serão transformadas em centros de convivência, de memória, de cultura etc etc etc. Anuncia, também, que os acervos( como se as bibliotecas extintas fossem apenas uma coleção de livros) serão repartidos e disponibilizados em novos locais.

É incompreensível! (Ou será redução de investimentos do poder público em cultura?) Vejam o decreto! Ofende a inteligência do cidadão e passa um rolo compressor sobre a memória cultural da cidade. Alegação para a extinção? Falta de público!!!

Ora, abandonam, não cuidam e, depois, são os habitantes da cidade os culpados pela perda, já que " não se interessam!", segundo as autoridades de plantão.

Face à lógica númerica de medição de interesse e importância, adotada pela administração da cidade, os fundamentais Machados, Gracilianos, Rosas e Clarices correriam sérios perigos de sobrevivência.

Percentualmente, pouquíssimos brasileiros já leram efetivamente seus escritos.

Que miopia é essa que toma efeito pela causa? Políticas que enveredam por tais caminhos, sempre acabam em desastre.

Prof. Dr. Edmir Perrotti
Programa da Pós-Graduaçao em Ciência da Informação
ECA/USP

Manifesto pela obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio no Estado de São Paulo

A Resolução 92/07 da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE) vetou aos estudantes das escolas públicas de Ensino Médio a possibilidade de estudarem a disciplina de Sociologia. A Resolução caminha na contramão da medida aprovada no Conselho Nacional de Educação e sancionada pelo ministro da Educação Fernando Haddad, que em 11 de agosto de 2006 determinou, através da Resolução 04/06, que Sociologia e Filosofia voltassem a compor a grade curricular das escolas públicas e privadas do Brasil já em 2008. Todos os outros 25 Estados e o Distrito Federal acataram essa determinação do CNE.

A SEE/SP está em desacordo com os rumos gerais da educação brasileira, que busca superar os anos de tirania e arbítrio democratizando o ensino, promovendo a cidadania e o espírito critico, tarefa esta que a Sociologia tanto como disciplina especializada como transversalmente ligada a um amplo campo temático (história social, política, sociologia econômica, direitos humanos, profissões, formações identitárias e subjetividade, relações sociais e movimentos sociais entre outros), é capaz de promover por meio de estudos de casos, pesquisas ou de teorizações gerais.

Ao privar os estudantes do Estado de São Paulo do ensino de Sociologia, a SEE/SP, a Secretária e Professora Maria Helena Guimarães de Castro que é socióloga e o Governador José Serra discriminam e negam à juventude paulista um ensino igual em ofertas, qualidades e direitos ao dos demais jovens brasileiros.

Solicitamos assim, a modificação da Resolução 92/07 de tal forma que seja garantido o ensino de Sociologia como componente da grade curricular no Estado de São Paulo como meio de promover a cidadania e superar a discriminação.

São Paulo, 7 de fevereiro de 2008.

Caso assine, envie para: manifestodossociologos@ig.com.br

São Paulo começa a usar apostila única para orientar professores

Sindicato critica ação do governo de elaborar material para uniformizar aulas na rede pública

Renata Cafardo

As escolas estaduais de São Paulo começam hoje, volta às aulas, a usar um material didático em forma de apostila para orientar professores sobre como proceder e quais conteúdos abordar em sala de aula. Essa é a primeira vez que a rede, com 200 mil professores e 5 mil escolas, tem um material único de proposta curricular para 5ª a 8ª séries e ensino médio.

Os livros elaborados pelo governo funcionam como guias - detalham o que deve ser feito aula a aula, indicam as habilidades dos alunos que precisam ser trabalhadas e propõem avaliações. Mas há quem reclame que o formato massifica a maneira de ensinar.

'Esse material tira o direito do professor de conduzir sua aula', diz o presidente do sindicato dos professores (Apeoesp), Carlos Ramiro, que teve acesso aos livros. Para ele, a proposta curricular é apresentada como 'apostilas usadas em sistemas de ensino particular', numa forma de padronização do ensino.

Ele se refere a grupos como COC, Positivo e Objetivo, dentre outros, que fornecem materiais próprios aos alunos e professores - de suas escolas e de outras - em vez do livro didático convencional. 'Todo ano os professores já faziam a revisão do ano anterior, levando em conta as dificuldades de cada aluno. Agora, vai ser tudo igual.'

A coordenadora de assuntos pedagógicos da Secretaria de Educação, Maria Inês Fini, discorda. Para ela, os livros didáticos comprados e distribuídos gratuitamente pelo Ministério da Educação (MEC) continuarão a ser usados e os materiais do governo do Estado farão referências a eles, deixando várias alternativas aos professores.

'Quando consultávamos a rede para saber que currículo era praticado, tínhamos 200 mil respostas', diz Maria Inês, referindo-se ao número total de professores nas escolas estaduais. 'Não existia nada sistematizado, a rede precisava de alguma referência até para haver mais justiça na avaliação.'

O material recebeu o nome de 'São Paulo faz Escola' e foi impresso pela Imprensa Oficial. Os mais de 3 milhões de exemplares foram feitos nos formatos de revista e jornal, como o Diário Oficial, que o Estado imprime nas mesmas máquinas.

Professora de ciências de uma escola estadual no Mandaqui, zona norte de São Paulo, Fátima Solange Lavorente não reclama. 'Acho importante que todos os professores trabalhem juntos em um mesmo projeto.' Para ela, a autonomia do docente não está ameaçada. 'Cada um poderá enriquecer as atividades propostas com vídeos ou textos que ache conveniente.'

DIFICULDADES

O material, que será usado de hoje até 30 de março, foi elaborado como forma de recuperação de português e matemática. Foi desenvolvido a partir das dificuldades de aprendizagem dos alunos identificadas pelo Saresp, o exame anual feito pela Secretaria da Educação.

Mesmo aulas de história, por exemplo, serão focadas na leitura e produção de textos. As de geografia e ciências trabalharão as habilidades matemáticas. Depois do dia 30, os professores receberão novas apostilas contemplando todo o currículo do ano letivo.

O material do professor tem formato de revista: cada uma contém de uma a quatro disciplinas. Logo no início, um quadro indica o número de aulas previstas e as habilidades a serem desenvolvidas. Há orientações explícitas de como preparar e aplicar a aula, com tempo estimado e modo de conduzir os estudantes nas tarefas. 'Anuncie o texto que será lido e o seu título, além de outra informação (tema, autor, gênero) que permita aos alunos criar uma expectativa (...). Anote-as na lousa', diz uma das revistas do professor.

No chamado Jornal do Aluno, as disciplinas são divididas como se fossem seções de um jornal diário. Ele começa com um texto da secretária de educação, Maria Helena Guimarães de Castro, dizendo que '2008 será, com certeza, um ano que fará a diferença'. As atividades - as mesmas indicadas no livro do professor - são numeradas e divididas por temas, fichas e aulas. Há textos, ilustrações e jogos, permeados de dicas e conceitos.

História da educação em SP é tema de livro

Será lançado hoje, no Espaço Funarte, o livro Educação, CEU e Cidade: breve história da educação brasileira nos 450 anos da cidade de São Paulo. O evento tem apoio do Instituto Eco Futuro, Instituto Vygotsky e Instituto de Políticas Públicas das Cidades. Haverá palestras sobre os temas Educação e Território; Educação, Cultura e Esporte; e Perspectivas Teóricas para a Educação a Partir de Experiências Inovadoras. Telefone (xx11) 3668-5284.

fonte das matérias: OESP – VIDA& - 18/02/08

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

I Ciclo de Debates: A inclusão escolar e seus resultados

I CICLO DE DEBATES
" A inclusão escolar e seus
resultados"
15/03/2008
INSCRIÇÕES GRATUITAS
Local : UNIFESP. Teatro Marcos Lindenberg
Rua Botucatu, 862 - Vila Clementino
São Paulo/SP (prox.metro Sta Cruz)
Proximos Encontros
Dia - 14/06/2008
" A Inclusão Escolar nas Alterações Psiquicas Graves"
Dia - 23/08/2008
" A Inclusão Escolar nas Deficiências físicas, neuro-motora, sensorias e multiplas"
Dia - 18/10/2008
" A Inclusão Escolar nas dificuldades de aprendizagem"
_,_.___

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Curso à distância de Direitos Humanos


Uma iniciativa da Comissão Municipal de Direitos Humanos , curso gratuito, realizado via internet, voltado a todos servidores públicos municipais.

Amplie seus conhecimentos sobre a temática e o exercício da cidadania.

Depois da conclusão do curso aplique os conhecimentos aprendidos e concorra ao prêmio "Melhores práticas dos Conselheiros em Direitos Humanos".

Vagas abertas
O link de inscrição é
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/cmdh

Mais informações:

TEL: 0800 7701445

E-MAIL:
conselheirosdh@faroseduc.com.br

Lista de discussão do Projeto PIMNDHESC

Abrale encaminha ofício à direção do FNDE e reabre a discussão sobre as fraudes no último PNLD

Quanto valem os livro$

São Paulo, 11 de fevereiro de 2008.


Ao Senhor
Rafael Torino
Diretor de Ações Educacionais – FNDE


Assunto: Programas do Livro


Prezado Senhor,

Os autores de livros didáticos, pela voz de sua entidade representativa, encaminham este ofício na perspectiva de colaborar para o aprimoramento da execução dos Programas do Livro. Para tanto, apresentam o resultado de uma pesquisa realizada pela entidade e tomam a liberdade de propor algumas ações.

JUSTIFICATIVA

Considerando:

que a Abrale tem, entre outras, a finalidade estatutária de contribuir para a elevação da qualidade do ensino brasileiro;
que os Programas Nacionais do Livro são de fundamental importância para a melhoria da qualidade do ensino público e, por extensão, para a inclusão social;
que a entidade dos autores sempre saiu em defesa dos Programas do Livro e, em particular, de sua credibilidade (e, por isso mesmo, sempre se arrogou o direito de apontar falhas e de propor soluções);
que a Abrale defende a plena autonomia do professor na escolha do material didático mais adequado à realidade de seu alunado;
que vários autores procuraram a entidade trazendo queixas de professores que supõem terem escolhido um livro, mas receberam outro;
que ao receber um livro que não escolheu, o professor, contrariado, na grande maioria dos casos, não o utiliza;

a Abrale decidiu pesquisar os motivos das queixas dos autores e do professorado e traz ao MEC (e, prioritariamente, ao FNDE) os resultados obtidos, propondo, além disso, algumas ações que, no entendimento dos autores, poderão corrigir parte das deficiências encontradas e promover o aprimoramento dos Programas Nacionais do Livro.



2. METODOLOGIA

· objeto da pesquisa: PNLD 2008 (escolha para o segundo segmento do Ensino Fundamental, ou seja, 5ª a 8ª séries, atuais 6º a 9º anos);
· foi realizada uma pesquisa por amostragem a partir de informações do próprio FNDE, como comprovam os documentos anexos (xerox das páginas do site do FNDE);
· para tanto, e em função do tamanho do PNLD, decidiu-se por alguns recortes:
Ø análise de 47 municípios, cobrindo 20 estados;
Ø desse total, 14 são capitais e 33 são municípios de pequeno ou médio porte;
Ø foram pesquisadas 3246 escolas estaduais localizadas em zona urbana;
Ø quantificação, em cada município, do número de escolas que fizeram a escolha pela WEB, por formulário de papel, as escolas que não fizeram pedido e aquelas que cometeram erro.
· considerou-se que tanto a não realização do pedido como o erro no desenrolar do processo resultam na perda da autonomia do professor; em função disso, as porcentagens apresentadas englobam as duas situações.

3. RESULTADOS



4. CONCLUSÕES

Como se observa, o índice geral de 25,60 % deve ser considerado preocupante, já que de cada quatro escolas pesquisadas, uma não efetivou o seu pedido adequadamente. Em alguns municípios, o índice de escolas que não realizaram o pedido chega a ser alarmante:
Ilhéus (BA): 86,66 %;
Rio de Janeiro (RJ): 61,76 %;
Barreiras (BA): 58,33 %;
Juazeiro (BA): 52 %;
Macaé (RJ): 45,45 %;
Petrolina (PE): 43,33 %;
Vitória da Conquista (BA): 40,90 %;
Rondonópolis (MT): 37,93 %;
Cuiabá (MT): 37,14 %;
Parintins (AM): 35,71 %;
Itumbiara (GO): 35,29 %;
Porto Alegre (RS): 32,03 %.

Nos casos de escolas que não realizaram o pedido, a situação mais recorrente, de acordo com relatos verbais colhidos pela Abrale, é aquela em que o diretor da escola ou outro funcionário preencheu o pedido, mas clicou em ‘imprimir’ e não no comando que enviaria o pedido.
Nos casos registrados como ‘entidades com erros’, duas situações são recorrentes: a) formulário com escolha sem assinatura ou identidade do solicitante; b) formulário enviado após o prazo de entrega. Nos municípios do Estado da Bahia, merece registro o elevado número de denúncias de irregularidades.

Os autores consideram que:
· a escola que não faz pedido ou erra, desrespeita a possível escolha do professor;
· o professor não trabalha adequadamente com o livro que não foi o escolhido (chegando mesmo a não utilizar o livro);
· essas ocorrências prejudicam a efetividade e a credibilidade dos Programas do Livro, uma vez que abrem janelas para reclamações, para denúncias (consistentes ou não) e para efetivos desvios na ponta do processo de escolha.


5. PROPOSTAS

Em função do exposto acima, os autores propõem:

prazo longo para análise das resenhas do Guia e para a análise dos livros aprovados;
prazo curto para a efetivação da escolha (quando o prazo é muito longo, há uma tendência generalizada para postergar a entrega; isso pode ser comprovado pelo elevado número de erros registrados como ‘formulário após o prazo de entrega’);
confecção de cartilhas objetivas, que seriam enviadas a diretores e professores, explicando passo a passo o processo de escolha;
precedendo imediatamente o curto período de escolha e durante o próprio, campanha orientadora pela TV;
aprimoramento do sistema para escolha pela WEB: é fundamental que o sistema tenha características de interatividade, ou seja, que oriente quais são os campos obrigatórios a serem preenchidos, que sinalize casos de campos preenchidos de forma incorreta ou não preenchidos, que envie mensagem confirmando que o pedido foi enviado com sucesso, que emita um recibo com os dados da escolha feita (ressaltamos que no próprio Governo Federal temos significativos exemplos de sistemas que funcionam com essas características, como no caso das declarações de imposto de renda e das urnas eletrônicas);
a obrigatoriedade de os responsáveis completarem o processo, mesmo que optem por não escolher livro algum; nesse caso, devem justificar a opção feita.

Ao concluir estas propostas e comentários, a Abrale reafirma sua preocupação com a melhoria do ensino público brasileiro e reconhece que os Programas do Livro muito têm contribuído e certamente muito ainda contribuirão nesse sentido. A Abrale ressalta ainda que encontros entre representantes do Governo e dos autores têm sido muito produtivos e que espera continuar colaborando de forma efetiva nesse processo, mantendo um diálogo permanente com os organismos ligados aos Programas do Livro.


Atenciosamente,
José De Nicola Neto
Presidente da Abrale





c/c:

Ministro Fernando Haddad, Ministro de Estado da Educação (MEC)

Dr. Daniel Balaban, Presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC)

Professora Jeanete Beauchamp, Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e do Ensino Fundamental do MEC

"Filósofo de São Paulo" refuta premissas e propostas da SEE

O "Filosofo de São Paulo" gravou vídeo manifestando-se sobre a necessidade do ensino das disciplinas de sociologia e filosofia no ensino médio.
Assista aqui:
http://ghiraldelli.blogspot.com/2008/02/grade-curricular-da-escola-mdia.html

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Ciclo de Seminários do CEPPPE - Centro de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas de Educação

21 e 22 de fevereiro de 2008 na FEUSP - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (para chegar, consultar mapa disponível em www2.fe.usp.br/estrutura/ )


21 de fevereiro


Local: Sala 114 do Bloco B

9h30 - 12h30
Sylvain Souchaud (Institut de Recherche pour le Développement-IRD)
“A educação como questão demográfica”

14h30 - 17h30
Marília Pinto de Carvalho (FEUSP)
“Critérios de avaliação escolar, gênero e raça nas séries iniciais”

22 de fevereiro


Local: Sala 114 do Bloco B

9h30 - 12h30
Valéria Virgínia Lopes (Dra. Pela FEUSP)
“Cartografia da Avaliação Educacional no Brasil”

14h30 - 17h30
Paula Louzano (Dra. Pela Universidade de Harvard)
“Equidade e Excelência no Ensino fundamental Brasileiro”

Evento gratuito e aberto a todos os interessados, sem necessidade de inscrição prévia.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Quanto valem os LIVRO$

Links relacionados
Apesar de isenções concedidas pelo governo ao setor editorial, os preços continuam subindo

Miguel Conde

Em dezembro de 2004, numa medida que tinha entre seus objetivos fazer com que os livros ficassem mais baratos no Brasil, o governo federal concedeu a editoras, distribuidoras e livrarias isenção de PIS e Cofins.

O valor da renúncia fiscal foi estimado, na época, em R$ 160 milhões. Em contrapartida, combinou-se que os beneficiados doariam 1% de seu faturamento a um fundo de promoção da leitura. Mais de três anos depois, pode-se dizer que a medida não teve os efeitos esperados.

Dados do IBGE indicam que nos últimos três anos o preço médio do livro no Brasil não parou de subir — em alguns momentos, inclusive acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Além disso, editoras admitem que a contribuição de 1% do faturamento, embora praticada por algumas empresas por meio de um fundo criado por entidades do setor, ainda está longe de ser adotada em peso.

O governo não pensa em rever a medida, mas já estuda um instrumento legal para tornar a contribuição compulsória, afirma o secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura, José Castilho Marques Neto. Ele defende a isenção de impostos concedida ao setor editorial, argumentando que ela ajudou empresas a superar crises: — Nós sabemos que o poder aquisitivo do brasileiro não é compatível com o preço do livro. A redução de preços é uma preocupação permamente.

Agora, essa medida permitiu que muitas editoras em situação financeira não muito confortável se oxigenassem. Se não houve redução dos preços, e alguns editores dizem que houve, tivemos um estímulo à variedade editorial.

O IPCA, medido pelo IBGE, indica que no primeiro ano após a medida, 2005, o preço médio dos livros subiu abaixo da inflação: 3,68% contra 5,69%. Na época, porém, os livros eram incluídos numa mesma rubrica com as revistas técnicas. Em 2006, o cálculo mudou.

Saíram as revistas e foram incluídos os livros didáticos. Naquele ano, os livros subiram 3,48%, enquanto a inflação foi de 3,14%. No ano passado, 5,21% contra o índice geral de 4,46%. Os aumentos são mais significativos quando se considera que o papel usado pelas editoras é pago em dólar, que desde o fim de 2004 vem acumulando baixas em relação ao real. Em outros setores que tiveram incentivos fiscais, como a construção civil, o aumento ficou abaixo da inflação.

Editoras questionam informação de que houve aumentos

Apesar disso, a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Rosely Boschini, contesta que os preços tenham subido. Formada por várias empresas do setor, a CBL questiona o aumento com base numa pesquisa feita em 2006 pelo professor Francisco Anuatti Neto, da USP, a pedido do Instituto de Desenvolvimento de Estudos Avançados do Livro e da Leitura. O instituto foi criado e é coordenado por Galeno Amorim, que no primeiro governo Lula foi coordenador do Plano Nacional do Livro e da Leitura, e esteve encarregado das negociações que resultaram na isenção de PIS e Cofins.

— Houve uma redução do preço do livro a partir da desoneração. A variação desde o período da desoneração fiscal, de fins de 2004 até janeiro de 2006, foi, na verdade, inferior aos índices de custo de vida do período — diz Rosely. — Em números, o preço médio do livro no Brasil passou de R$ 34,07 para R$ 35,35 nesse período. A variação foi de 3,76%, enquanto os índices de custo de vida da mesma época subiram 6,41% (pelo IPCA) ou 5,23% (segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe-USP). O livro no Brasil não é caro. Os motivos principais que possivelmente dificultam o acesso à leitura são a baixa renda per capita dos brasileiros e também as deficiências no hábito de ler.

A pesquisa, porém, praticamente se restringe a 2005 (pega também dezembro de 2004 e janeiro de 2006), e não acompanha o IPCA após as mudanças no cálculo dos preços dos livros. Além disso, o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas, Salomão Quadros, diz que não é correto chamar um aumento abaixo do IPCA de redução de preço: — Os preços não sofreram redução. Pelo contrário, subiram de R$ 34,07 para R$ 35,35. A desoneração pode ter contribuído para atenuar a elevação, mas não tenho elementos para afirmar, é só uma conjectura.

Sem ela, os preços poderiam ter subido ainda mais. Quadros chama atenção para algumas peculiaridades do mercado editorial, que dificultam o acompanhamento dos preços. A primeira é que o livro não é um produto padronizado. Como diversos elementos podem variar — números de páginas, qualidade do papel etc. —, o aumento do preço médio pode refletir um perfil diferente dos lançamentos. Outro dado complicador, diz, é que os livros didáticos tradicionalmente têm maiores aumentos de preço do que os outros livros.

Os índices do setor, portanto, podem apontar uma inflação que não se aplica a todos os seus segmentos.

O Globo, 9 fev. 2008. Suplemento Prosa & Verso.


Economista critica a 'falta brutal' de dados

Professor que apontou crise no faturamento de editoras hoje defende revisão da desoneração do setor

O argumento do governo, de que a isenção de PIS e Cofins ajudou editoras em situação financeira delicada, se baseia em parte num estudo encomendado pelo BNDES aos economistas George Kornis e Fábio Sá Earp, do Grupo de Pesquisas em Economia do Entretenimento da UFRJ. Publicado em 2005, o trabalho apontava uma diminuição progressiva no faturamento das editoras, e foi usado para reforçar a defesa de incentivos ao setor. Hoje, no entanto, o próprio Kornis acha que a medida deveria ser revista, pois segundo ele as editoras não estão cumprindo sua parte do acordo. O pesquisador, porém, diz que é de fato difícil fazer diagnósticos precisos do setor, não só pelas suas particularidades, mas principalmente pela escassez de dados: — Há uma falta brutal de análises da economia do livro. As entidades representativas das editoras não têm um único documento técnico que permita um exame profundo. É uma loucura, não há uma continuidade nos estudos que permita uma discussão regular. O setor editorial é importante para a economia da cultura do país, que é importante para a economia como um todo, e já está na hora de ser tratado como tal.

Após série de quedas, faturamento subiu em 2006

No ano passado, Kornis e Earp atualizaram sua pesquisa, com os dados divulgados pela CBL sobre o comportamento do mercado em 2006. O trabalho indica que foi o primeiro ano em que houve uma reversão significativa das quedas no faturamento registradas desde 1995. Em números corrigidos pela inflação, esse faturamento passou de R$ 4,735 bilhões em 1995 para R$ 2,483 bilhões em 2003, até atingir R$ 2,880 bilhões no ano retrasado.

Roberto Feith, diretor da Objetiva e um dos vice-presidentes do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), afirma que as editoras brasileiras pretendem fazer uma pesquisa ampla para reduzir as dúvidas sobre o desempenho da indústria.

Ele não acredita que os preços tenham subido acima da inflação. Diz que a desoneração, aliada à baixa da inflação, fez com que as editoras abandonassem o reajuste anual dos preços dos seus catálogos.

— A maioria das editoras representadas pelo Snel não reajusta preços desde 2004. Como o sindicato tem conhecimento de informações contraditórias sobre o assunto, decidiu, agora em dezembro, contratar a Fundação Getulio Vargas para elaborar uma pesquisa abrangente sobre a questão. Tenho certeza de que a FGV vai demonstrar que o segmento de livros de interesse geral manteve a maioria dos preços congelados desde 2004 e não reajustou os preços na média alem da inflação — aposta o editor.

Os editores de didáticos também reagem à notícia do aumento de preços lançando dúvidas sobre os dados. Uma pesquisa divulgada no mês passado pelo Dieese dá respaldo à idéia de que os livros didáticos puxam os índices de inflação da indústria editorial. Segundo o instituto, os preços dos didáticos em São Paulo subiram 70,63% entre 2003 e 2007, contra 31,15% da variação do Índice de Custo de Vida (ICV, calculado no município de São Paulo). A Associação Brasileira de Editores de Livros, que reúne empresas do setor, afirma que o aumento foi inferior ao da inflação, embora não tenha números próprios para apresentar.

— A gente defende que os livros subiram bem abaixo da inflação. O que não pode ser feito é você pegar duas ou três escolas isoladas onde tem listas caras... Você tem que olhar nessa lista o que eles estão medindo. A gente ainda está medindo os aumentos, mas no ano passado realmente foi bem abaixo da inflação — diz Jorge Yunes, presidente da entidade.

Nem todos editores, porém, questionam a informação de que houve aumento acima da inflação. Dono do Grupo Record, o maior do país no mercado de obras de interesse geral, Sérgio Machado prefere defender o incentivo ao setor com outros argumentos.

Ele diz que a medida permitiu, por exemplo, que as empresas fizessem mais propaganda dos seus livros, o que considera a forma mais eficiente de conquistar leitores. Machado não se entusiasma muito, no entanto, com a doação de 1% do faturamento do setor para um fundo de estímulo à leitura: — Essas campanhas “ler é viver”, coisas do tipo, são bacanas, mas... Não sei se são eficientes.

Não adianta dizer “tenha emoção lendo um livro”, sem dizer qual livro. O estímulo deve ser específico. Após a desoneração, as editoras estão com mais verbas para gastar em marketing, e com isso estimulam a leitura.

Nunca vi tanta propaganda de livro como ultimamente. O editor aponta a entrada de grandes editoras no mercado de livros de bolso, entre elas a Companhia das Letras e a própria Record, como efeito positivo da desoneração. Para Feith, cuja editora também se prepara para investir no segmento, o crescimento do mercado de pockets mostra que há um descompasso entre os preços e o bolso dos brasileiros.

— Se compararmos os preços dos lançamentos no Brasil e nos principais países, os preços brasileiros são, na média, mais baixos.

Mas se compararmos os preços dos livros no Brasil com o poder aquisitivo médio da população, eles são altos. A indústria editorial tem consciência deste dilema e tem trabalhado para mudar este quadro, seja mantendo preços congelados, seja investindo cada vez mais em formatos mais baratos, como livros de bolso.

O Globo, 9 fev. 2008. Suplemento Prosa & Verso.

'É realmente um problema, uma saia justa'

Governo quer criar ainda este ano mecanismo de contribuição compulsória do setor editorial para promover a leitura

ENTREVISTA
José Castilho

O secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), José Castilho Marques Neto, diz que o governo acertou ao desonerar o setor editorial. Afirma que a medida permitiu o crescimento do mercado de livros de bolso, e, ao tirar editoras do sufoco financeiro, estimulou a diversidade cultural. Ele lamenta, porém, que o setor não esteja cumprindo a promessa de repassar 1% do faturamento a um fundo de promoção à leitura. O governo, porém, tem esperança de conseguir tornar a contribuição compulsória ainda este ano.

O GLOBO: Um dos objetivos do governo ao conceder isenção de PIS e Cofins ao setor editorial, no fim de 2004, era tornar os livros mais baratos. Segundo os dados do IBGE, isso não aconteceu. Diante disso, o governo pensa em rever a medida?
JOSÉ CASTILHO: Par ticularmente, acho que a medida foi correta e deveria ser mantida. Nós sabemos que o poder aquisitivo do brasileiro não é compatível com o preço do livro. A redução de preços é uma preocupação permanente. Agora, essa medida permitiu que muitas editoras em situação financeira não muito confortável se oxigenassem. Se não houve redução dos preços, e alguns editores dizem que houve, tivemos um estímulo à variedade editorial. Num momento em que o mercado se torna cada vez mais concentrado, a desoneração permitiu que muitas editoras nacionais sobrevivessem, e houve um avanço do ponto de vista da oferta de livros.

Além dos benefícios às empresas, houve também conseqüências positivas para os leitores?

CASTILHO: A sustentabilidade das editoras assegura a diversidade cultural. É um benefício indireto. Com o dinheiro que deixou de ser aplicado em impostos, também houve investimentos em outros tipos de coleção, como os livros de bolso, que têm preços mais acessíveis.

Foi acordado, na época, que como contrapartida à desoneração o setor editorial (livrarias, distribuidores e editoras) doaria 1% do seu faturamento para um fundo de promoção da leitura. Mas nem todos aderiram ao projeto...
CASTILHO: O que mais nos incomoda é não termos conseguido ainda uma instrumento legal para assegurar o recolhimento do 1% da contrapartida. Ainda não foi criado, infelizmente, o mecanismo para recolher compulsoriamente o 1%. O que de fato foi criado por iniciativa dos editores, por intermédio de entidades como a CBL, a Abrelivros e o Snel, é o fundo do Instituto Pró-Livro. Lá está sendo recolhido uma parte do que foi combinado, mas ainda é algo pálido em comparação ao que seria com a contribuição compulsória.

Qual seria o tamanho do fundo, nas contas do governo?
CASTILHO: Calculamos algo entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões por ano. Se pensarmos que isso iria para iniciativas que nunca tiveram verba garantida no Brasil, é de fato muito dinheiro

Não é de certa forma constrangedor que o governo precise impor uma contribuição compulsória para que o setor editorial faça o que se comprometeu a fazer?

CASTILHO: É realmente um problema, uma certa saia justa. Seria mais interessante que houvesse uma espontaneidade. Talvez a lógica empresarial não acompanhe unanimemente o interesse público, embora algumas empresas estejam cumprindo o combinado.

Qual é a dificuldade de se estabelecer a contribuição compulsória?

CASTILHO: Temos estudos bastante adiantados nesse sentido, mas claro que isso se insere num momento político do país, onde se diz que há muito imposto. Tudo isso tem que ser acordado politicamente. Mas tenho esperança de que este ano isso se torne realidade. E as empresas hoje já estão colaborando com várias ações do PNLL. Ainda é pouco em relação ao 1%, mas é uma iniciativa louvável. Eu acho que do ponto de vista econômico, ao acabar com o imposto, o governo fez o que tinha que fazer.

(Miguel Conde)

O Globo, 9 fev. 2008. Suplemento Prosa & Verso.



'Os custos da indústria são muito altos'

Presidente da Abrelivros comenta os conflitos no setor e reitera que os preços não subiram acima da inflação

ENTREVISTA
Jorge Yunes

Jorge Yunes foi eleito no final do ano passado para a diretoria da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), que reúne empresas do setor de didáticos. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, comentou diversas questões que movimentaram o setor no ano passado, como as denúncias de fraude na distribuição de livros feita pelo Ministério da Educação (MEC). Yunes contesta ainda a pesquisa feita pelo Dieese que indica um aumento de 70,63% no preço dos didáticos em São Paulo entre 2003 e 2007. Embora não tenha um levantamento próprio, garante que essa variação não corresponde à realidade dos preços dos didáticos no país.

Miguel Conde

O GLOBO: Uma pesquisa recente do Dieese mostrou que em São Paulo, de 2003 a 2007, o preço dos livros didáticos subiu acima de 70%, mais do que o dobro da inflação no período. Por que houve esse aumento?

JORGE YUNES: A Abrelivros contesta essa informação. A gente defende que os livros subiram bem abaixo da inflação. O que não pode ser feito é você pegar duas ou três escolas isoladas onde tem listas caras... Você tem livros de ensino médio de R$ 70, R$ 80, mas tem livros de ensino médio de R$ 19, R$ 20 também. Você tem que olhar essa lista, o que eles estão medindo, onde essa pesquisa foi feita. Os custos da indústria são muito altos, e mesmo assim subiram abaixo da inflação.

Quanto subiram, segundo os números da Abrelivros?

YUNES: A gente está medindo ainda. Mas no ano passado realmente foi bem abaixo da inflação. O dado do Dieese não pode ser olhado como uma coisa isolada. Eles podem ter olhado num lugar onde realmente subiu, com base numa lista cara. Existem livros mais caros e mais baratos, depende da lista, e o professor tem direito à escolha.

Mas o que o Dieese mede não é o livro caro ou barato, e sim a evolução do preço. O livro pode ser barato, mas e ter tido um aumento acima da inflação.

YUNES: Não, isso realmente não houve. A gente contesta, não houve esse aumento.

Há no setor de livros didáticos um quadro de acirramento da concorrência, de concentração das empresas. Nos últimos anos, o MEC registrou casos de divulgadores que roubaram senhas de escolas e encomendaram livros das suas próprias editoras. Também há distribuição muito forte de brindes, material promocional com desenho parecido com o do MEC. O que a Abrelivros pode fazer para impedir esse tipo de prática?

YUNES: Cada empresa, cada editora tem sua forma de divulgação, mas existe um código de ética na associação que coíbe qualquer publicidade que seja contra o edital que o MEC divulga. A entidade aconselha aos associados que atuem de acordo com o edital. Se houve algum problema de roubo de senha como você disse, isso é uma coisa, mas eu não sei se teve.

Já foram noticiados casos...

YUNES: O MEC não nos informou sobre isso. Talvez sejam casos isolados, em estados isolados. Você não pode colocar isso como uma prática de mercado. Não é isso que acontece efetivamente. É um processo extremamente transparente, as editoras divulgam seu material diante de todos. Não é uma coisa feita às escuras.

O governo decidiu no ano passado impor uma série de restrições à atuação dos divulgadores. A Abrelivros se opõe a essas restrições. Por quê?

YUNES: Até o ano passado, os divulgadores entravam nas escolas para mostrar o seu produto. Nas particulares, isso acontece o tempo inteiro. São várias editoras, produtos diferentes, que se renovam a cada três anos. E os professores têm que ter acesso àquele material para escolher. Nos últimos dois programas o MEC proibiu, dizendo que os divulgadores criavam tumulto e faziam com que os professores pedissem algum favorecimento, o que não acontece. Os divulgadores vão às escolas para mostrar os produtos. O processo é extremamente benéfico para o professor. Fizemos uma pesquisa com o Ibope no ano retrasado e a grande maioria dos professores da rede pública acha que a presença do divulgador é impor tante.

Tem sido muito discutida a adoção na rede pública de sistemas de ensino baseados em apostilas. Em várias escolas, elas já substituem os didáticos. Como esses métodos impõem cronogramas muito rígidos de ensino, na opinião de especialistas está havendo uma terceirização da definição dos currículos. Qual é a sua opinião a respeito?

YUNES: Se as prefeituras recebem do MEC a custo zero livros de qualidade, que passaram por avaliações, eu não vejo razão para comprarem sistemas de ensino que nem por avaliação passaram. Como o professor vai distinguir se o livro é bom, se o livro é ruim? As prefeituras fazem grandes compras, o MEC permite. Há sistemas de ensino muito bons e outros ruins, mas o que se adota com dinheiro público precisa ser avaliado.

O senhor vê uma tendência de mercado das editoras de didáticos começarem a explorar os sistemas de ensino?

YUNES: O mercado está muito competitivo e concentrado. Da mesma forma que editoras de livros didáticos estão fazendo seus sistemas de ensino, as de sistemas de ensino também estão entrando na área do livro.

No ano passado, a Abrelivros denunciou que muitas escolas, em vez de receber os livros que tinham pedido ao MEC, estavam recebendo livros de outras editoras. Como ficou essa apuração do MEC?

YUNES: Na verdade, é importante que deixe bem ressaltado que a Abrelivros não fez nenhuma denúncia em relação a essas apurações. O que foi levado ao MEC foram informações reunidas por nossas equipes. É importante que a gente deixe bem claro que a Abrelivros não fez nenhuma denúncia ao MEC. E o MEC também não entendeu como denúncia. A mídia é que noticiou como tal...

Mas qual é a diferença?

YUNES: Denúncia é quando você tem prova de uma coisa, chega e denuncia “isso é um problema”. Não foi isso que aconteceu. Levamos ao ministro algumas informações e o ministério fez uma avaliação dessas 180 e poucas escolas. Houve uma apresentação no fim do ano do resultado preliminar. A Abrelivros está agora participando, levantando esses resultados e a gente vai contestar ou aprovar tudo o que foi feito por eles, até a pedido do ministério. A coisa está caminhando da forma mais tranqüila e pacífica possível.

Ainda não há nada de conclusivo, então?

YUNES: A gente vai observar essas apurações, o ministro disse que teríamos o tempo que quiséssemos para avaliar os resultados.

Mas há algum indício de ações ilegais?

YUNES: O que tem é que escolas não receberam livros que escolheram, mas para isso existem N razões. Algumas escolheram fora do prazo, outras não confirmaram a escolha no sistema.

Essa situação criou algum clima de competição na associação?

YUNES: O clima interno é excelente. Continuam as mesmas pessoas, as empresas são as mesmas e a eleição foi muito tranqüila. Tivemos uma grande maioria dos votos, então o clima é muito bom. Não existe nenhuma animosidade entre nenhuma das editoras que estão ali presentes.

No ano passado, o jornalista Ali Kamel causou polêmica ao denunciar doutrinação ideológica em livros escolares. Como vê essa questão?

YUNES: Isso gerou muito pano para manga, mas acho que é uma coisa simples. É importante que todas as visões sejam mostradas. Você não pode ser tendencioso. É importante ter diversidade de conteúdo, uma visão geral, e vai caber ao professor pegar e trabalhar a informação. Hoje no país você tem 30 e poucos partidos, por isso tem muitas diferenças de ideologia, pessoas de todos os tipos, de esquerda, direita, centro.

O Globo, 9 fev. 2008. Suplemento Prosa & Verso.



Concentração do setor é preocupante, diz pesquisadora

Célia Cassiano critica terceirização do ensino público; auditoria não encontrou fraude em compras do MEC

Autora de uma tese de doutorado pioneira sobre o mercado de livros didáticos no Brasil, defendida no ano passado na PUC-SP, a pesquisadora Célia Cassiano diz que a crescente concentração do setor aumenta o poder de pressão dos grupos privados sobre o governo.

— Hoje o mercado de didáticos é dominado por cinco grandes grupos que nem sempre têm interesses apenas editoriais. São empresas com grande poder de investimento e posições que nem sempre vão estar de acordo com o interesse público — diz.

Na opinião dela, a principal questão atual no mercado de didáticos é o crescimento dos sistemas privados de ensino, baseados em apostilas. Grandes editoras do setor começaram a produzir seus próprios sistemas, que esmiúçam como o conteúdo deve ser abordado em cada aula, e já substituem os livros didáticos em muitas escolas da rede pública. Até o momento, as apostilas não passam por nenhum tipo de avaliação do governo. Na prática, afirma, isso corresponde a uma terceirização do ensino público.

— É um material que não tem abertura para nenhuma flexibilidade no ensino. Além disso, as apostilas acabam transferindo a formatação curricular para as mãos da iniciativa privada. Não acho que isso seja apropriado para a rede pública. A formação do professor tem que ser responsabilidade do governo — afirma Célia.

As fusões e a entrada de grupos internacionais no mercado brasileiro de didáticos — a maior parte da Espanha — parece estar levando a uma competição cada vez mais acirrada.

No fim de 2007, a Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) tornou público que escolas da rede pública estavam pedindo ao Ministério da Educação (MEC) livros de uma editora e recebendo obras de empresas difere n t e s . E m grande número de casos, os livros enviados seriam de uma editora de propriedade de um grupo espanhol. Mas uma auditoria realizada em dezembro, acompanhada pela Controladoria Geral da União (CGU), não encontrou irregularidades, diz Sonia Schwartz Coelho, coordenadora geral dos Programas do Livro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

— Em nenhum dos 189 casos pesquisados a escolha do professor foi diferente do material enviado pelo FNDE. O programa de livros didáticos tem duas formas de escolha, uma pelo formulário impresso e outra pela internet.

Caso cheguem dois pedidos ao FNDE, prevalece a escolha feita no formulário impresso.

Houve casos de escolas que pediram livros diferentes em cada um desses meios. Por que mandaram dois pedidos eu não sei, mas que a gente atendeu o solicitado não há dúvida. O que ainda se está examinando são casos de escolas que dizem não ter recebido os formulários, embora esses formulários tenham sido enviados pelo MEC e depois devolvidos já preenchidos.

O relatório da auditoria mostra também que, em 97 dos 189 casos, as escolas fizeram a escolha pela internet, mas não seguiram todos os passos de confirmação da encomenda, e por isso o pedido não foi registrado.

Quando isso acontece, o governo envia à escola os livros mais pedidos em todo país para cada disciplina. Houve também casos de escolas que fizeram seus pedidos por carta, e-mail e até por vídeo, o que é irregular.

Mas Sônia Coelho diz que há de fato indício de práticas no mínimo questionáveis na disputa pelo mercado de livros didáticos, como a distribuição de brindes. O governo também já recebeu denúncias de oferecimento de computadores e carros em troca da escolha de livros de uma editora, mas não há nenhuma comprovação desses casos. Sônia defende a restrição à atuação dos divulgadores nas escolas, imposta pelo governo em 2006.

— Grande parte das escolas e dos coordenadores reclamava de uma interferência muito grande no momento da escolha, influenciando o professor.

Montamos uma norma de procedimento em conjunto com a Abrelivros. Eles mesmos concordaram que a divulgação tinha que ser feita antes, e que nos últimos dias era melhor que os divulgadores não estivessem lá.
O Globo, 09/02/2008, Suplemento Prosa & Verso (Miguel Conde)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Para secretária estadual de Educação de SP, a culpa pelo péssimo desempenho da educação é dos professores

Numa rede que contempla 5 500 escolas estaduais, 250 000 professores e 5 milhões de alunos
será implantado, pela primeira vez no Brasil, um sistema segundo o qual as escolas passam a ter metas acadêmicas no horizonte e receber mais verbas caso consigam cumprí-las. O tal bônus será distribuído entre os funcionários.
Depois de anunciado o novo sistema, a secretária estadual de Educação em São Paulo, a professora Maria Helena Guimarães de Castro, passou a receber dezenas de e-mails de professores, alguns deles furiosos, segundo ela.

"Eles [os professores] querem aumento de salário, sim, mas dissociado do desempenho”, conta-nos a secretária.

Leiam, na íntegra, a entrevista que ela concedeu a revista VEJA:

Veja: Nas próximas semanas, as escolas estaduais de São Paulo se tornarão as primeiras no país a ter metas acadêmicas a cumprir e a ser premiadas com mais dinheiro caso consigam atingi-las. Quais resultados a senhora espera alcançar com tais medidas?

Maria Helena : O objetivo é criar incentivos concretos para o progresso das escolas, a exemplo da bem-sucedida experiência de outros países do mundo desenvolvido, como Inglaterra e Estados Unidos. Eles não inventaram nenhuma fórmula mirabolante, mas, sim, conseguiram pôr em prática sistemas capazes de distinguir e premiar, com base em critérios objetivos, as escolas com bom desempenho acadêmico. As pesquisas mostram que, em todos os lugares onde uma política de reconhecimento ao mérito foi implantada, a educação avançou. No Brasil, esse é um debate novo e, infelizmente, ainda contraria uma parcela dos educadores.

Veja: Qual é exatamente o motivo das críticas ao novo sistema?

Maria Helena: Em pleno século XXI, há pessoas que persistem em uma visão sindicalista ultrapassada e corporativista, segundo a qual todos os professores merecem ganhar o mesmo salário no fim do mês. Essa velha política da isonomia salarial passa ao largo dos diferentes resultados obtidos em sala de aula, e aí está o erro. Ao ignorar méritos e deméritos, ela deixa de jogar luz sobre os mais talentosos e esforçados e, com isso, contribui para a acomodação de uma massa de profissionais numa zona de mediocridade. Por isso, demos um passo na direção oposta.

Veja: Os professores se queixam de salários baixos. A senhora dá razão a eles?

Maria Helena: Na comparação com outros profissionais no Brasil e também com professores de escolas particulares, um conjunto de pesquisas já demonstrou que os salários dos docentes na rede pública chegam a ser até mais altos. Esse é um fato, ancorado em números. Apesar disso, acho, sim, que faz parte das atribuições do Estado criar estímulos financeiros de carreira, de modo a valorizá-la e conseguir atrair mais gente boa para as escolas públicas. O que não se pode fazer é defender aumento de salário indiscriminado para professor ruim, desinteressado ou que mal aparece na escola. Quem merece mais dinheiro no fim do mês são os bons professores e aquelas escolas públicas capazes de oferecer um raro ensino de qualidade, apesar das evidentes dificuldades.

Veja: Como funcionará o novo sistema de premiação dos professores em São Paulo?

Maria Helena: Criamos um indicador para aferir a situação atual de cada escola e, com base nele, estabeleceremos metas concretas. O desempenho dos alunos em provas aplicadas pela própria secretaria terá o maior peso. Esse é, não resta dúvida, um excelente medidor do sucesso acadêmico de uma escola. Outro é o tempo que um aluno leva para concluir os ciclos escolares. Da combinação desses e mais fatores resultará o tal índice. Depois de um ano, ele voltará a ser calculado. Só as escolas que conseguirem melhorar nas estatísticas vão receber mais dinheiro.

Veja: De quanto será o prêmio?

Maria Helena : O bônus pode chegar ao equivalente a mais três salários num ano. Isso para cada funcionário da escola, da faxineira ao diretor. Foi com um sistema bem semelhante a esse que a cidade de Nova York alcançou avanços notáveis. Fizemos aqui uma adaptação necessária para a realidade brasileira: os professores mais faltosos serão automaticamente excluídos da lista dos premiados. É apenas o justo. O Brasil ainda está pouco habituado a encarar as políticas para a educação sob uma ótica mais voltada para os alunos. Eles merecem, afinal, assistir a uma boa aula e por isso estamos deixando de premiar os professores campeões em ausência.

Veja: De acordo com os mais recentes dados da OCDE (organização que reúne países da Europa e os Estados Unidos), os estudantes brasileiros aparecem nas últimas colocações em leitura, ciências e matemática. Como mudar esse cenário?

Maria Helena: Um passo fundamental é fazer a escola se sentir responsável pelos resultados dos estudantes, algo ainda bastante longínquo, mas possível de alcançar com a cobrança de metas. Fiz uma pesquisa sobre o assunto na qual professores entrevistados em diferentes estados brasileiros repetiam a mesmíssima ladainha: "As notas dos alunos são ruins porque a escola pública é carente de recursos e os professores ganham mal". Não acho que seja razoável atribuir tudo a fatores externos. Segundo essa mentalidade atrasada e comodista, a culpa pelo péssimo desempenho geral é invariavelmente do estado brasileiro, nunca dos próprios professores, muitos dos quais incapacitados para dar uma boa aula. A falta de professores preparados para desempenhar a função é, afinal, um mal crônico do sistema educacional brasileiro. Sem desatar esse nó, não dá para pensar em bom ensino.

Veja : Qual seria o melhor caminho para elevar o nível dos professores?

Maria Helena: Num mundo ideal, eu fecharia todas as faculdades de pedagogia do país, até mesmo as mais conceituadas, como a da USP e a da Unicamp, e recomeçaria tudo do zero. Isso porque se consagrou no Brasil um tipo de curso de pedagogia voltado para assuntos exclusivamente teóricos, sem nenhuma conexão com as escolas públicas e suas reais demandas. Esse é um modelo equivocado. No dia-a-dia, os alunos de pedagogia se perdem em longas discussões sobre as grandes questões do universo e os maiores pensadores da humanidade, mas ignoram o básico sobre didática. As faculdades de educação estão muito preocupadas com um discurso ideológico sobre as múltiplas funções transformadoras do ensino. Elas deixam em segundo plano evidências científicas sobre as práticas pedagógicas que de fato funcionam no Brasil e no mundo. Com isso, também prestam o desserviço de divulgar e perpetuar antigos mitos. Ao retirar o foco das questões centrais, esses mitos só atrapalham.

Veja: A senhora pode dar alguns exemplos desses mitos?

Maria Helena : Um dos mais populares é aquele segundo o qual o aumento no salário dos professores leva sempre à melhoria do ensino. As pesquisas mostram que, quando o dinheiro vem dissociado de uma política de reconhecimento do mérito, ele surte pouco ou nenhum efeito. Um segundo mito bastante divulgado diz respeito ao tamanho das classes. Os educadores afirmam por aí ser impossível oferecer uma boa aula diante de classes cheias, mas os estudos sobre o assunto indicam que, tirando as séries iniciais, esse é um fator de pouca relevância. Escolas de diferentes países decidiram inclusive aumentar o número de alunos em sala de aula para resolver outra questão, esta, sim, de grande efeito positivo. Eles estão esticando as horas de permanência dos estudantes nas escolas e, para arcar com os custos da medida, precisam fazer caber mais gente numa mesma sala. Resta ainda o mito do livro didático. Os estudantes de faculdades de pedagogia aprendem a encarar os livros como uma espécie de camisa-de-força, e não como uma base a partir da qual podem ampliar os horizontes em sala de aula.

Veja:O currículo escolar também é visto com certa reticência pelos professores brasileiros, segundo mostram as pesquisas...

Maria Helena: De novo, os professores se sentem tolhidos na sua liberdade de ensinar a baboseira ideológica que passa ao largo de uma questão central. Sem contar com um currículo, o professor de escola pública no Brasil, de modo geral, continua a encarar as classes sem uma referência mínima na qual se mirar. Poucos estados brasileiros (entre as exceções, São Paulo, Minas Gerais e o Tocantins) dispõem de um currículo para oferecer às escolas, no qual estejam incluídos os assuntos a serem abordados em cada matéria, no detalhe. É uma pena. A experiência mostra que professores com um apoio didático dessa natureza vão mais longe em sala de aula. Investir na construção de um currículo, como fizeram alguns dos países da Europa dois séculos atrás, é certamente um destino mais adequado para as verbas públicas do que esparramar canteiros de obras Brasil afora, um caminho tão comum para o orçamento da educação no país.

Veja: Quais são as melhores aplicações para o dinheiro destinado à educação?

Maria Helena: Três tipos de uso do dinheiro surtem mais efeito em sala de aula, conforme apontam as pesquisas: além do investimento em produção de material didático, os cursos para melhorar a formação dos professores e os programas de valorização aos bons docentes também resultam em melhorias concretas no nível do ensino. Não dá para fugir ainda de gastos extras com escolas sem a infra-estrutura mínima. E frente dos 5.500 colégios estaduais de São Paulo, tenho visto de tudo. Em algumas das escolas, a diretora precisa retirar diariamente lâmpadas e fiações ao final das aulas, para evitar roubos por parte dos próprios alunos. Eles costumavam trocar esses objetos por drogas. Outras escolas se tornaram verdadeiros emaranhados de "puxadinhos", extensões labirínticas do prédio original feitas pela própria comunidade. São apenas alguns retratos da desordem que precisamos enfrentar. Diante de tantas precariedades, a velha tradição brasileira de fazer pirotecnia com o dinheiro público da educação não parece ter o menor sentido.

Veja: A que tipo de "pirotecnia" a senhora se refere?

Maria Helena : A construção de escolas monumentais, repletas de quadras poliesportivas, piscinas olímpicas e centenas de computadores, por exemplo. Em geral, elas são um convite à gastança de dinheiro sem nenhuma evidência de retorno para a sala de aula a longo prazo. Isso porque, segundo indica a experiência, em pouco tempo essas escolas entram em decadência por exigir uma manutenção cara demais para os cofres públicos. Volto à mesma tecla: o que dá certo na educação é a aplicação disciplinada de um conjunto de medidas bem mais básicas e não aquelas de efeito festivo e mais vistosas, como ainda preferem alguns.

Veja: Como algumas escolas públicas conseguem sobressair diante das demais, apesar do mesmo orçamento apertado?

Maria Helena: Há um fator comum a todas as escolas nota 10, e ele merece a atenção das demais: trata-se da presença de um diretor competente, com atributos de liderança semelhantes aos de qualquer chefe numa grande empresa. Sob sua batuta, os professores trabalham estimulados, os alunos desfrutam um clima positivo para o aprendizado e os pais são atraídos para o ambiente escolar. Se tais diretores fossem a maioria, o ensino público não estaria tão mal das pernas.

Veja : Na sua opinião, o Ministério da Educação (MEC) tem tomado medidas acertadas?

Maria Helena: No geral, sim. Os esforços concentrados para melhorar a educação básica e a ênfase dada as avaliações das escolas são dois dos pontos positivos. Para mim, ver a educação de volta aos trilhos é um alívio. No primeiro mandato do governo Lula, tive meus momentos de tristeza.

Veja: Por quê?

Maria Helena: Foi um período de paralisia para a educação, com um retrocesso: o desmantelamento do antigo Provão, uma prova criada durante o governo Fernando Henrique para aferir a qualidade das universidades. Funcionava bem, mas acabou vítima de um velho hábito da política brasileira: o de não dar continuidade às medidas adotadas pelos antecessores. Numa área como a educação, de resultados de longo prazo, o tradicional bota-abaixo a cada troca de governo é algo a ser combatido, tal qual fizeram países como a Irlanda e a Coréia do Sul, hoje modelos na educação. Eles só conseguiram abandonar o atoleiro de notas vermelhas depois de firmar uma espécie de pacto nacional, capaz de sobreviver às sucessivas trocas de governo ao longo de décadas. O Brasil tem hoje uma meta, para daqui a quinze anos, e há um bom consenso em torno das estratégias para alcançá-la. Precisa, daqui para a frente, começar a dar mostras de maturidade política para conseguir deixar a rabeira nos rankings internacionais de ensino e, quem sabe um dia, aparecer entre os melhores.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Questões que queremos ver os deputados discutirem

CPI da Tapioca, Não! Queremos nosso dinheiro gasto com mais propriedade, quer saber como o governo federal gasta com cartão corporativo, gente isso é público! Vai no site da transparência e quem ainda não entendeu o que é o PIG (Partido da Imprensa Golpista), leia a segunda matéria deste post.

ambos textos extraídos do blog Vio Mundo do jornalista Luiz Carlos Azenha:

O PARAJORNALISMO DECADENTE DA FOLHA E COMPANHIA ILIMITADA

Atualizado em 09 de fevereiro de 2008 às 14:31 | Publicado em 09 de fevereiro de 2008 às 13:54

WASHINGTON - Lá vamos nós, de novo, para a espetacularização da política. Com dinheiro público. Quantas tapiocas vai custar a brincadeira? Será que os partidos não podem se reunir e criar um mecanismo nacional para garantir a transparência de todos os gastos? Aí o dinheiro da CPI pode ser usado para montar o banco de dados com informações não sigilosas de todos os governos. Mas não, vão arrastar a tapioca para dar entrevista. Vão levar a mesa de bilhar reformada para uma perícia no Congresso, com transmissão ao vivo pela Globonews e Record News.

O governo Lula é tão culpado pela situação quanto a mídia partidarizada. Não só pelos eventuais "erros" ou fraudes. Mas por ter se engajado nesse jogo político tosco e, ao fazer isso, ter adotado a tática de dar um passo atrás para depois dar outro passo atrás. E outro. E mais outro. Chegamos a tal ponto que uma reportagem isenta do Jornal Nacional é celebrada com foguetório. Quando a Folha de S. Paulo faz o que nunca deveria ter deixado de fazer, com atraso, ou seja, dar tratamento igual para iguais, é uma festa. O pessoal da Barão de Limeira está furioso: descobriu que está perdendo o monopólio da opinião.

Não caiu a ficha, ainda, de que o Brasil atravessa um período extraordinário numa conjuntura internacional politicamente favorável. E de que projetos de longo prazo dão certo, sim, mesmo quando a maioria dos brasileiros ainda tem complexo de inferioridade. Getúlio Vargas morreu um pouquinho por ter tido coragem de criar a Petrobrás. Posso estar enganado, mas acho que foi o governo Geisel o primeiro a investir na tecnologia de poços profundos. Ou seja, foram mais de 50 anos até que a empresa tivesse capacidade de encontrar - e no futuro extrair - o petróleo do campo de Tupi.

Tirando a Rússia, abarrotada de petróleo, bem armada e com uma população educada, nenhum país tem as oportunidades que o Brasil tem agora. Com os Estados Unidos enterrados no Iraque e no Afeganistão, a América Latina está "sobrando" para a expansão comercial brasileira. Já que precisamos de confirmação externa, vamos ao que dizem a Economist, o Financial Times e o New York Times, grosso modo: terra+água+sol+recursos minerais+alguns setores de ponta na economia+embrapa+petróleo+gás+nenhuma guerra civil (a não ser na internet)+Amazônia. Tudo isso numa conjuntura de escassez de comida, água, energia e recursos naturais.

Como incorporar a Amazônia ao Brasil sem destruí-la? Como evitar que ela seja internacionalizada? Como se preparar para defendê-la? Até onde permitir o avanço da fronteira agrícola? Como criar um polo de biotecnologia? Como aumentar o acesso à internet? O Brasil deve retomar o programa nuclear? Como aumentar os salários dos professores? Qual é a autonomia que se deve dar aos diretores de escolas públicas? Como financiar o SUS, que o Brasil criou em 1988 e os Estados Unidos só vão criar em 2009, se um democrata for eleito?

Esses são os temas que eu gostaria de ver deputados e senadores debatendo, com transmissão ao vivo por emissoras de rádio e televisão. É pedir muito? Eu ajudo a pagar o salário deles e, como brasileiro, concedi através do Estado o direito de explorar o ar à Globo, à Record e à Jovem Pan. Eu até acho que esses debates estão acontecendo, em algum lugar, mas a gente nem fica sabendo.

A nossa mídia é tão atrasada que nem naqueles cadernos supostamente "especiais", que acompanham os jornais de domingo, os assuntos que mencionei acima aparecem. É mais barato traduzir calhaus que sairam no Le Monde e no New York Times. Assim como é mais barato gastar com comentaristas enfezados do que com reportagem.



**********************

EU NÃO QUERO QUE GASTEM O MEU DINHEIRO COM A CPI DA TAPIOCA

Atualizado em 07 de fevereiro de 2008 às 13:30 | Publicado em 07 de fevereiro de 2008 às 01:13

WASHINGTON - O governo Lula perdeu completamente a noção. Marchou três ministros para diante das câmeras e microfones para dar satisfação sobre gastos com cartões corporativos. Depois eles aqui nos chamam de república das bananas e a gente não se dá conta do motivo. Será que não ocorre a ninguém neste governo frouxo que o Brasil é maior que uma tapioca?

Denúncias sobre o uso irregular de cartão corporativo? Apure-se. Quem gastou erradamente devolve o dinheiro. E estamos conversados. Eu gostaria muito de ver um repórter da Folha de S. Paulo, aqui em Washington, batendo na porta da Casa Branca para perguntar como são pagas as despesas pessoais do presidente Bush. Seria escorraçado. Nem Bush, nem os "ministros" de Bush tem tempo para tratar dessas picuinhas.

Como são pagas as despesas pessoais do governador José Serra? E do prefeito Gilberto Kassab? Sinceramente? Eu não quero saber. Acho que quaisquer que sejam os gastos que eles fazem COM DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS não paga o preço de uma CPI na Assembléia Legislativa, em termos diretos ou indiretos. Qual é o custo de uma CPI? Quantas horas o servidor público pago COM O DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS vai perder na CPI? Quantas horas de trabalho de um deputado ou senador, pagos COM O DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS, serão gastas na CPI? Qual é o sentido disso, num país que tem milhões de problemas muito mais graves para resolver, que envolvem muito mais DO DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS? Qual é a relação custo-benefício? Dizer aos irmãos Frias que o jornal deles tem alguma importância? É isso? Vamos pagar uma fortuna para dizer à Folha que ela tem importância?

Que o caso passe à esfera da polícia e da Justiça. Que tome seu rumo dentro do que está previsto na Constituição. Porém, o governo Lula é tão inepto que propõe uma CPI no Senado.

Eu simplesmente acho que o Brasil - do PT, do PSDB, do DEM, do PCdoB, do PV, do PSDB, do PMDB, do PR, do PTB, etc. - tem coisas muito mais importantes a fazer do que se mobilizar em torno do funcionário que gastou 1.400 reais para reformar uma mesa de bilhar. Foi irregular? Que devolva o dinheiro.

Mas o governo Lula gosta de brincar de faz-de-conta. Ao marchar três ministros para dar satisfações sobre gastos com cartões corporativos acaba legitimando as "cobranças" de um jornal que está em campanha política e não aplica o princípio da isonomia - tratamento igual para iguais. Eu não tenho nada contra investigações jornalísticas. Já fiz muitas. Agora, por exemplo, me dedico a descobrir quem bancou mulher e filho de FHC na Europa. Foi o governo? Foi dinheiro público? Ou foi dinheiro da Globo? Se foi da Globo, o que a empresa recebeu de volta?

O episódio da demissão da ministra Matilde Ribeiro, jogada às feras, vai entrar para a História como um dos mais vexatórios desse governo. Até as pedras do quintal de casa sabem que os adversários do Estatuto da Igualdade Racial e do reconhecimento das terras dos quilombolas estavam salivando à espera da cabeça da ministra.

Não foi a própria Corregedoria Geral da União que apurou as irregularidades no uso dos cartões? Os dados não constam de um site do próprio governo? O jornal denunciou? Que seja apurado, sem que isso implique em mais uma crise artificial, que atrasa o Brasil de todos nós - do DEM ao PCdoB. Aqui nos Estados Unidos, o órgão encarregado de monitorar os gastos do governo acaba de detonar vários contratos entre o Pentágono e fabricantes de armas. O assunto saiu nos jornais. Políticos cobraram apuração. Estamos falando em bilhões de dólares. CPI? Só se ficar determinado que George W. Bush obrigou o Pentágono a fechar contrato com uma empresa da família dele.

O problema do Brasil não é a mídia, que faz o seu papel. O problema é a falta de coragem do governo Lula.

Qual foi o resultado do chamado alerta amarelo? Um ministro altamente qualificado ficou na defensiva, como se devesse satisfação a meia dúzia de jornalistas incompetentes e despreparados, que provocaram pânico em milhões de brasileiros.

Se o governo tivesse o que se chama de cojones - o que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por exemplo, tem - trataria desde já de politizar o assunto, deixando claro junto à opinião pública o que até mamãe, que prefere o tricô ao Jornal Nacional, sabe: começou a campanha eleitoral. E na campanha eleitoral a mídia corporativa brasileira é um partido. E esse partido só corre atrás dos problemas federais. Problemas estaduais e municipais em São Paulo, por exemplo, são pontuais, nunca sistêmicos.

Mas o governo Lula sofre da síndrome dos viralatas. Sugiro duas semanas de estágio com Barack Obama, o jovem senador de Illinois que se comporta como um "príncipe africano" na campanha eleitoral. Isso também vale para o republicano John McCain. Os dois são atacados de todo lado. Mas, diante dos repórteres, traçam uma clara linha de limite. Bateu? Levou. É do jogo.

Infelizmente, no Brasil, estamos diante de um governo masoquista, que cede diante de matérias de pé de página. Um governo fraco. Que vive emprestando cojones alheios quando precisa deles para autopreservação. Quem foi o primeiro convidado a viajar no Aerolula? Um repórter da Época, revista das Organizações Globo, empresa que em 2006 urdiu um plano estratégico para eleger Geraldo Alckmin. Esse é o retrato do governo Lula.

McQualificação

McQualifications
Tema Geral: Globalização e Mundialização
Tema Específico: Educação de Massas
Relevância do Tema: - O futuro e o papel da Educação;- Os limites entre interesses privados e públicos;- A convergência/agregação/ unificação entre lucro e Res Publica.
O Governo Britânico anunciou hoje que estará transferindo à cadeia de Fast Food americana McDonalds – juntamente à uma Empresa Ferroviária e uma Companhia Aérea - o direito de conceder créditos (equivalentes à uma matéria ou disciplina em um colégio) válidos para obtenção do diploma do Ensino Médio (também conhecido como Secundário ou Colegial).O plano visa estimular a melhoria da qualificação entre os jovens, oferecendo mesmo a jovens que tenham abandonado a escola a oportunidade de obter a o diploma oficial, através da participação e compleição de treinamentos de trabalho dentro das empresas.Esta é a primeira vez que empresas privadas são autorizadas à conceder créditos acadêmicos através de seus próprios treinamentos de funcionários. Experts e líderes de negócios tiveram reações variadas sobre o plano, que já foi prontamente apelidado de “McQualificação”.

Nos Estados Unidos, o grupo McDonalds oferece cursos em Gerenciamento de Restaurantes que podem ser transferidos como créditos válidos em tradicionais Faculdades e Universidades, através de seu complexo de treinamento, a Universidade do Hamburger. No entanto, um porta-voz do grupo McDonalds-USA afirmou não haver planos no momento para o lançamento de um programa destinado ao ensino médio como feito na Grã-Bretanha.O Ministro britânico para Qualificações, John Denham, afirmou que o governo estava, com tal plano, reconhecendo que tais companhias demonstram dedicação no treinamento e desenvolvimento de seus funcionários.“Este é um importante passo rumo ao fim da velha divisão entre métodos de treinamento nas companhias e os padrões nacionais de qualificação, algo que beneficiará empregados, empresas e o país como um todo,” afirmou.

Tradução (parcial): Moderador Geopolitical Analysis
http://news.yahoo.com/s/ap/20080128/ap_on_re_eu/britain_mcdonald_s_high

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

História e cultura afro-brasileiras não fazem parte da formação tradicional dos docentes


A matéria assinada por Simone Iwasso de 7 de janeiro deste ano, publicada no jornal O Estado de São Paulo, lembrou-nos que a lei sancionada pelo governo federal em janeiro de 2003, a 10.639, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira no currículo da educação fundamental pública e privada, ainda não saiu do papel.

Na época, organizações que defendiam a promoção da igualdade racial comemoraram o fato. Quatro anos [(sic), são cinco na verdade] se passaram e essas mesmas organizações agora mostram preocupação e um certo ceticismo. Isso porque, fora exceções espalhadas pelo País, os estudantes continuam sem aprender na escola noções da história e menos ainda da influência da cultura trazida da África para o Brasil.

Levantamento feito pela Ação Educativa com entidades parceiras mostrou ainda que, apesar de não receberem o conteúdo contemplado pela lei, estudantes têm curiosidade e vontade de saber mais sobre o tema - 47% afirmam querer aprender sobre história da África. Quando questionados, demonstram percepções bastante diferentes sobre a existência ou não de racismo, mas realçam a importância do trabalho em prol de uma igualdade racial efetiva. (veja mais em ação educativa)

No entanto, na hora de ouvir os professores, surge um dos problemas: 96% deles afirmam desejar ensinar esses conteúdos em classe, considerando o tema muito importante, mas se dizem sem preparo para isso, já que história e cultura afro-brasileiras não fazem parte da formação tradicional dos docentes. A questão ainda não entrou nos cursos oferecidos pelas secretarias e, em relação ao material didático, é ainda escassa a oferta dentro da escola - apesar de haver uma diversidade disponível no mercado editorial.

Diretores e coordenadores também demonstram interesse: 37% deles dizem que o estudo da história africana é importante para a compreensão da própria história do Brasil.
“Em relação à aplicação da lei, a pesquisa confirmou o que esperávamos, que é a falta de iniciativas para uma verdadeira implementação. O que nos surpreendeu foi a expectativa que as crianças demonstraram de aprender sobre o tema”, diz Analu Souza, consultora da pesquisa. “Infelizmente, ainda muitas coisas de origem africana são vistas com preconceito: as máscaras, que são uma arte, associadas com demônios, as manifestações religiosas, malvistas. E os estudantes querem entender melhor isso”, afirma, lamentando o fato de a lei ainda não ter saído do papel.

O Ministério da Educação (MEC) está ciente do problema, mas suas ações são vistas como pouco eficientes pelas organizações. No mês passado, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade realizou junto com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma oficina para traçar estratégias. Um documento com orientações para as redes de ensino deve ser publicado em breve.

A pesquisa foi realizada entre agosto de 2005 e julho de 2006. Foram entrevistadas 492 pessoas, entre alunos, professores e pais de 15 escolas de educação infantil e ensino fundamental das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. O trabalho teve como parceiros o Instituto C&A, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e a Educação e Profissionalização para a Igualdade Racial (Ceafro).

Iniciativas
Apesar de mostrar falta de implementação geral, o levantamento conseguiu identificar como surgem as boas práticas na área: em 72% dos casos a idéia é do próprio professor. É ele que faz curso ou adquire material por conta própria e começa a criar programas com seus alunos - seja por meio de teatro, de livros de história, de conversas em grupo.

Além disso, dados do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), que organiza anualmente uma premiação para os professores com melhores trabalhos na área, mostra que há proporção igual de docentes brancos e negros se dedicando à promover projetos de igualdade racial.
Dessa maneira, eles conseguem, sozinhos, chegar ao que propõe a lei: privilegiar o estudo da história da África e dos africanos, a trajetória dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade. Tudo isso junto com o ensino da literatura, por exemplo, ou da história.

“As crianças chegam à escola conhecendo Branca de Neve, a Bela Adormecida, mas não conhecem nenhum personagem negro”, conta Fátima Graminha, professora do ensino infantil do CEU Aricanduva, na zona leste de São Paulo. Junto com outra professora da mesma escola, ela desenvolveu um projeto que trabalha a igualdade racial com seus alunos. A iniciativa das duas foi vencedora do prêmio no ano passado.

Ela conta que, após histórias, desenhos e conversas com as crianças, elas começam a mudar seus comportamentos. “A maioria da minha classe é negra. Mas, entre eles, quando brigam, se chamam de macacos, sem nem ter consciência do que estão dizendo, repetem o que ouvem por aí”, diz ela. Outro fato que a professora costumava perceber era a falta de identidade das crianças. “Você pedia para fazerem um auto-retrato, um desenho, e elas se desenhavam loiras, de cabelos lisos, brancas”, conta.

Outro grande problema, principalmente entre as crianças que vivem em bairros periféricos, são os conflitos religiosos: “Muitos são evangélicos ou moram em bairros onde há um número grande de evangélicos. Então, ouvem que a umbanda ou o candomblé são manifestações do diabo, são ensinados a tratarem mal quem segue a religião”, diz a professora.

Esse tipo de mensagem também é trabalhada em sala de aula, para que as crianças aprendam a respeitar as diversidades religiosas e os colegas de sala que são de outras religiões, evitando xingamentos e demonstrações de preconceito. “Percebemos tudo isso e decidimos trabalhar no resgate da identidade dessas crianças, da história familiar, contando a história dos povos que vieram como escravos da África para o Brasil e como influenciaram nossa cultura”, explica.

Formação
Um dos pontos de apoio - e fonte de informação - das professoras foi o Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. As duas participaram de um curso de formação oferecido pela instituição a professores. “A criança negra ainda não freqüenta a mesma escola que a criança branca e somente com informação vamos melhorar essa situação”, diz Ana Lúcia Lopes, coordenadora do núcleo de educação do museu.

A procura pelo curso, segundo ela, tem sido grande, atraindo professores de várias redes municipais do interior. “São módulos separados: histórico, cultural, religioso, tecnológico, que duram o ano todo, usando como base muito do próprio acervo do museu”, diz. O curso busca patrocínio para ser oferecido no ano que vem.

Além disso, o núcleo produziu um material didático, vendido para algumas redes, tanto para uso de professores quanto de alunos. “Aqui, temos toda a história do negro no Brasil. Mostramos a escravidão, a contribuição tecnológica dos escravos africanos, as manifestações religiosas, algumas personalidades”, conta. O objetivo final, segundo ela, é desmistificar a idéia de que não há racismo e, a partir da aceitação de que há, começar a combatê-lo.