segunda-feira, 7 de abril de 2008

Cartilha que ensina professor a lecionar está cheia de erros

DIÁRIO DE S.PAULO 6 de abril de 2008

Aberrações como confundir século com milênio e ignorar o nome dos países que já pertencem à União Européia não causariam surpresas se fossem respostas de estudantes da rede pública em algum teste. Esses erros, no entanto, estão presentes em duas cartilhas do governo do estado, destinadas a ensinar os professores a darem aulas. Os guias foram lançados pela Secretaria de Estado da Educação há três dias.

O jornal Diário de S.Paulo teve acesso aos cadernos de História, da 5 série, e Geografia, da 8, ambos destinados às aulas do primeiro bimestre do ano letivo. Professores da rede estadual comentaram os erros, mas pediram anonimato.

Para a pergunta: "O século XXI começou no 2001 e terminará em qual ano?", a cartilha do governo aponta como resposta correta a alternativa "d", ano 3000. "Confunde século com milênio", afirma um professor. A resposta certa é ano 2100, que não consta em nenhuma das cinco alternativas do guia.

Outra questão que, na opinião de docentes da rede estadual, é mal elaborada e induz ao erro está na página 26. A pergunta lembra que um arqueólogo batizou seu achado (esqueleto pré-histórico) de Lucy em homenagem à música "Lucy in the sky with diamond", dos Beatles. Um brasileiro, ao encontrar o primeiro esqueleto pré-histórico de mulher, também homenageou uma música. A questão pede o nome do esqueleto. "A comparação com a música dos Beatles leva o aluno ao erro porque a música 'Luiza', de Tom Jobim, é a mais conhecida. E a alternativa correta é Luzia", diz um docente.

Geografia

Os mapas do caderno de Geografia trazem como referência a quarta edição Atlas Geográfico Escolar, do IBGE, de 2007. Mas, no mapa sobre os países pertencentes à União Européia (UE), a cartilha erra feio ao colocar Romênia e Bulgária como "futuros membros". Ambos fazem parte do bloco desde o ano passado. Destacados como "novos membros", em rosa, estão sete países que integram a UE desde 2004. A República Tcheca, que também aderiu em 2004, é destacada em amarelo, como membro atual. "Todos os países que integram a União Européia são membros atuais. Não dá para entender essa divisão", comenta um professor da rede.


Outros dois erros graves estão no mapa da página 18. A Rússia, que tem parte de seu território na Ásia e parte na Europa, aparece integralmente como país asiático. A Eritréia, país que se separou da Etiópia, em 1993, não existe no mapa da cartilha.


Comparação leva docentes a suspeitarem de plágio

Professores de história da 5 série da rede estadual de ensino, que usam o livro didático "História Temática, Tempos e Culturas", da Editora Scipione, suspeitam que trechos da obra foram plagiados pela cartilha do governo estadual. O livro, aliás, é distribuído gratuitamente pelo governo federal e aprovado pelo Ministério da Educação e Cultura.


Segundo os apontamentos dos docentes ouvidos pelo Diário, um trecho da página 16, do caderno de história, é praticamente idêntico ao da página 42 do livro didático: "Por volta do ano 100 a.C., acreditava-se que sete astros giravam em torno da Terra. Essa ordem determinou a denominação dos dias da semana para os romanos", é o que está no caderno. No livro, o trecho é: "Por volta do ano 100 a.C., acreditava-se que sete astros giravam em torno da Terra. Seus nomes em latim são Saturnus, Sol, Mars, Mercurius, Jupiter, Venus e Luna. Essa ordem determinou a denominação dos dias da semana para os romanos".


Também há semelhança entre a questão três da cartilha de história, na página 17, que fala sobre o calendário judaico, e o mesmo assunto abordado na página 46 do livro didático.


Os professores ouvidos pelo Diário não detectaram, até agora, cópias suspeitas no guia de Geografia da 8 série.

A secretaria negou a cópia dos textos. "A pasta não recebeu qualquer reclamação de editora ou órgão público. Os guias foram elaborados por cerca de 40 educadores, a maioria deles autores de outros livros. Os trechos citados são diferentes dos que estão no livro indicado pelo Diário de S. Paulo e são de domínio público, contidos em qualquer livro de História", diz nota enviada pela pasta. O Diário entrou em contato com a Editora Scipione por meio da assessoria, mas não obteve resposta sobre o assunto.


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