ambos textos extraídos do blog Vio Mundo do jornalista Luiz Carlos Azenha:
O PARAJORNALISMO DECADENTE DA FOLHA E COMPANHIA ILIMITADA
Atualizado em 09 de fevereiro de 2008 às 14:31 | Publicado em 09 de fevereiro de 2008 às 13:54
WASHINGTON - Lá vamos nós, de novo, para a espetacularização da política. Com dinheiro público. Quantas tapiocas vai custar a brincadeira? Será que os partidos não podem se reunir e criar um mecanismo nacional para garantir a transparência de todos os gastos? Aí o dinheiro da CPI pode ser usado para montar o banco de dados com informações não sigilosas de todos os governos. Mas não, vão arrastar a tapioca para dar entrevista. Vão levar a mesa de bilhar reformada para uma perícia no Congresso, com transmissão ao vivo pela Globonews e Record News.
O governo Lula é tão culpado pela situação quanto a mídia partidarizada. Não só pelos eventuais "erros" ou fraudes. Mas por ter se engajado nesse jogo político tosco e, ao fazer isso, ter adotado a tática de dar um passo atrás para depois dar outro passo atrás. E outro. E mais outro. Chegamos a tal ponto que uma reportagem isenta do Jornal Nacional é celebrada com foguetório. Quando a Folha de S. Paulo faz o que nunca deveria ter deixado de fazer, com atraso, ou seja, dar tratamento igual para iguais, é uma festa. O pessoal da Barão de Limeira está furioso: descobriu que está perdendo o monopólio da opinião.
Não caiu a ficha, ainda, de que o Brasil atravessa um período extraordinário numa conjuntura internacional politicamente favorável. E de que projetos de longo prazo dão certo, sim, mesmo quando a maioria dos brasileiros ainda tem complexo de inferioridade. Getúlio Vargas morreu um pouquinho por ter tido coragem de criar a Petrobrás. Posso estar enganado, mas acho que foi o governo Geisel o primeiro a investir na tecnologia de poços profundos. Ou seja, foram mais de 50 anos até que a empresa tivesse capacidade de encontrar - e no futuro extrair - o petróleo do campo de Tupi.
Tirando a Rússia, abarrotada de petróleo, bem armada e com uma população educada, nenhum país tem as oportunidades que o Brasil tem agora. Com os Estados Unidos enterrados no Iraque e no Afeganistão, a América Latina está "sobrando" para a expansão comercial brasileira. Já que precisamos de confirmação externa, vamos ao que dizem a Economist, o Financial Times e o New York Times, grosso modo: terra+água+sol+recursos minerais+alguns setores de ponta na economia+embrapa+petróleo+gás+nenhuma guerra civil (a não ser na internet)+Amazônia. Tudo isso numa conjuntura de escassez de comida, água, energia e recursos naturais.
Como incorporar a Amazônia ao Brasil sem destruí-la? Como evitar que ela seja internacionalizada? Como se preparar para defendê-la? Até onde permitir o avanço da fronteira agrícola? Como criar um polo de biotecnologia? Como aumentar o acesso à internet? O Brasil deve retomar o programa nuclear? Como aumentar os salários dos professores? Qual é a autonomia que se deve dar aos diretores de escolas públicas? Como financiar o SUS, que o Brasil criou em 1988 e os Estados Unidos só vão criar em 2009, se um democrata for eleito?
Esses são os temas que eu gostaria de ver deputados e senadores debatendo, com transmissão ao vivo por emissoras de rádio e televisão. É pedir muito? Eu ajudo a pagar o salário deles e, como brasileiro, concedi através do Estado o direito de explorar o ar à Globo, à Record e à Jovem Pan. Eu até acho que esses debates estão acontecendo, em algum lugar, mas a gente nem fica sabendo.
A nossa mídia é tão atrasada que nem naqueles cadernos supostamente "especiais", que acompanham os jornais de domingo, os assuntos que mencionei acima aparecem. É mais barato traduzir calhaus que sairam no Le Monde e no New York Times. Assim como é mais barato gastar com comentaristas enfezados do que com reportagem.
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EU NÃO QUERO QUE GASTEM O MEU DINHEIRO COM A CPI DA TAPIOCA
Atualizado em 07 de fevereiro de 2008 às 13:30 | Publicado em 07 de fevereiro de 2008 às 01:13
WASHINGTON - O governo Lula perdeu completamente a noção. Marchou três ministros para diante das câmeras e microfones para dar satisfação sobre gastos com cartões corporativos. Depois eles aqui nos chamam de república das bananas e a gente não se dá conta do motivo. Será que não ocorre a ninguém neste governo frouxo que o Brasil é maior que uma tapioca?
Denúncias sobre o uso irregular de cartão corporativo? Apure-se. Quem gastou erradamente devolve o dinheiro. E estamos conversados. Eu gostaria muito de ver um repórter da Folha de S. Paulo, aqui em Washington, batendo na porta da Casa Branca para perguntar como são pagas as despesas pessoais do presidente Bush. Seria escorraçado. Nem Bush, nem os "ministros" de Bush tem tempo para tratar dessas picuinhas.
Como são pagas as despesas pessoais do governador José Serra? E do prefeito Gilberto Kassab? Sinceramente? Eu não quero saber. Acho que quaisquer que sejam os gastos que eles fazem COM DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS não paga o preço de uma CPI na Assembléia Legislativa, em termos diretos ou indiretos. Qual é o custo de uma CPI? Quantas horas o servidor público pago COM O DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS vai perder na CPI? Quantas horas de trabalho de um deputado ou senador, pagos COM O DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS, serão gastas na CPI? Qual é o sentido disso, num país que tem milhões de problemas muito mais graves para resolver, que envolvem muito mais DO DINHEIRO DOS MEUS IMPOSTOS? Qual é a relação custo-benefício? Dizer aos irmãos Frias que o jornal deles tem alguma importância? É isso? Vamos pagar uma fortuna para dizer à Folha que ela tem importância?
Que o caso passe à esfera da polícia e da Justiça. Que tome seu rumo dentro do que está previsto na Constituição. Porém, o governo Lula é tão inepto que propõe uma CPI no Senado.
Eu simplesmente acho que o Brasil - do PT, do PSDB, do DEM, do PCdoB, do PV, do PSDB, do PMDB, do PR, do PTB, etc. - tem coisas muito mais importantes a fazer do que se mobilizar em torno do funcionário que gastou 1.400 reais para reformar uma mesa de bilhar. Foi irregular? Que devolva o dinheiro.
Mas o governo Lula gosta de brincar de faz-de-conta. Ao marchar três ministros para dar satisfações sobre gastos com cartões corporativos acaba legitimando as "cobranças" de um jornal que está em campanha política e não aplica o princípio da isonomia - tratamento igual para iguais. Eu não tenho nada contra investigações jornalísticas. Já fiz muitas. Agora, por exemplo, me dedico a descobrir quem bancou mulher e filho de FHC na Europa. Foi o governo? Foi dinheiro público? Ou foi dinheiro da Globo? Se foi da Globo, o que a empresa recebeu de volta?
O episódio da demissão da ministra Matilde Ribeiro, jogada às feras, vai entrar para a História como um dos mais vexatórios desse governo. Até as pedras do quintal de casa sabem que os adversários do Estatuto da Igualdade Racial e do reconhecimento das terras dos quilombolas estavam salivando à espera da cabeça da ministra.
Não foi a própria Corregedoria Geral da União que apurou as irregularidades no uso dos cartões? Os dados não constam de um site do próprio governo? O jornal denunciou? Que seja apurado, sem que isso implique em mais uma crise artificial, que atrasa o Brasil de todos nós - do DEM ao PCdoB. Aqui nos Estados Unidos, o órgão encarregado de monitorar os gastos do governo acaba de detonar vários contratos entre o Pentágono e fabricantes de armas. O assunto saiu nos jornais. Políticos cobraram apuração. Estamos falando em bilhões de dólares. CPI? Só se ficar determinado que George W. Bush obrigou o Pentágono a fechar contrato com uma empresa da família dele.
O problema do Brasil não é a mídia, que faz o seu papel. O problema é a falta de coragem do governo Lula.
Qual foi o resultado do chamado alerta amarelo? Um ministro altamente qualificado ficou na defensiva, como se devesse satisfação a meia dúzia de jornalistas incompetentes e despreparados, que provocaram pânico em milhões de brasileiros.
Se o governo tivesse o que se chama de cojones - o que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por exemplo, tem - trataria desde já de politizar o assunto, deixando claro junto à opinião pública o que até mamãe, que prefere o tricô ao Jornal Nacional, sabe: começou a campanha eleitoral. E na campanha eleitoral a mídia corporativa brasileira é um partido. E esse partido só corre atrás dos problemas federais. Problemas estaduais e municipais em São Paulo, por exemplo, são pontuais, nunca sistêmicos.
Mas o governo Lula sofre da síndrome dos viralatas. Sugiro duas semanas de estágio com Barack Obama, o jovem senador de Illinois que se comporta como um "príncipe africano" na campanha eleitoral. Isso também vale para o republicano John McCain. Os dois são atacados de todo lado. Mas, diante dos repórteres, traçam uma clara linha de limite. Bateu? Levou. É do jogo.
Infelizmente, no Brasil, estamos diante de um governo masoquista, que cede diante de matérias de pé de página. Um governo fraco. Que vive emprestando cojones alheios quando precisa deles para autopreservação. Quem foi o primeiro convidado a viajar no Aerolula? Um repórter da Época, revista das Organizações Globo, empresa que em 2006 urdiu um plano estratégico para eleger Geraldo Alckmin. Esse é o retrato do governo Lula.
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