sábado, 2 de fevereiro de 2008

desempenho dos alunos de escola pública e mídia

29% dos alunos de 2ª série da prefeitura não sabem o que lêem
(Folha de São Paulo- Fábio Takahashi e Ricardo Sangiovanni)

Destaques da Folha
Prova aplicada em novembro mostra que 29% deles não conseguem responder a questões de português e matemática

Na 4ª série, 26,9% também tiveram dificuldades; para prefeitura, "a situação ainda é ruim", mas melhor do que a esperada.

Nossos destaques:
(...) faltam investimentos na infra-estrutura, principalmente para diminuir o número de alunos em salas de aulas.
"A Unesco diz que um professor dá conta, no máximo, de 25 alunos. A secretaria vem e coloca 40 em uma sala de aula. Depois faz uma provinha e vai ver se aprendeu. Claro que não aprendeu", afirmou o professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Paro. A prefeitura diz que vai melhorar a parte física da rede.

"Não dá para trabalhar com 45 alunos nas salas, como hoje. O máximo tem que ser entre 30 e 35", diz o professor Adelson Queiroz, do Sindicato dos Profissionais de Ensino em Educação Municipal de São Paulo.
Para Queiroz, a eliminação do terceiro turno de aulas até o fim do ano, meta da gestão Kassab para 2008, depende, além da construção de novas escolas, do investimento em qualificação dos professores.
"Se houver condições de salário para que o professor não precise trabalhar em duas ou três escolas, será viável", diz.

Uma prova aplicada nas escolas municipais de São Paulo em novembro apontou que cerca de 29% dos alunos da segunda série do ensino fundamental estão com um nível de aprendizado crítico. Não conseguiram nem responder às questões de português e matemática.

Na prática, segundo relatório da própria Secretaria de Educação, ao ler um documento, esses alunos não são capazes de identificar, por exemplo, que se trata de uma conta de água. Têm também dificuldades para entender o contexto de uma história em quadrinhos.

Os resultados da Prova São Paulo mostram também que boa parte dos alunos da quarta série (26,9%) também está muito abaixo do esperado para sua etapa de ensino.

O desempenho dos alunos da 8ª série foi um pouco mais animador. Na comparação com prova semelhante aplicada em 2005, os alunos paulistanos conseguiram notas melhores (226,5 pontos para 241). A média nacional é 221,87.
Na segunda série, dos 29,7% que ficaram no chamado patamar crítico, 14,6% são considerados "não-alfabéticos". Ou seja, ainda não têm idéia de como funciona a língua portuguesa.
Em São Paulo, os alunos da segunda série não são reprovados por conta da progressão continuada. Eles só podem ser retidos a partir da quarta série.

O secretário de Educação, Alexandre Schneider, que divulgou ontem os dados ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM), afirma que a "a situação ainda é ruim", mas melhor do que esperava.

Segundo ele, um exame feito na rede por amostragem em 2005 revelou números piores -a taxa de não-alfabéticos estava na casa dos 30%.
"Tenho convicção de que as políticas adotadas deram base para que haja um salto de qualidade em breve", afirmou.
No evento, Kassab fez um balanço otimista dos resultados. Disse que os resultados foram "bem positivos", pois "mostra que avançamos em qualidade".
A prefeitura afirma que os alunos que estão em situação crítica terão um programa de reforço especial, com materiais didáticos específicos e treinamento de professores.

Educadores, porém, afirmam que isso não é suficiente e que faltam investimentos na infra-estrutura, principalmente para diminuir o número de alunos em salas de aulas.
"A Unesco diz que um professor dá conta, no máximo, de 25 alunos. A secretaria vem e coloca 40 em uma sala de aula. Depois faz uma provinha e vai ver se aprendeu. Claro que não aprendeu", afirmou o professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Paro. A prefeitura diz que vai melhorar a parte física da rede.

Melhora

A Prova São Paulo (que analisou também quarta, sexta e oitava séries) foi ajustada para ser comparada à Prova Brasil, exame do governo federal, cuja primeira edição foi aplicada em 2005 na 4ª e na 8ª séries.
No intervalo analisado (2005 a 2007), não houve mudanças significativas na 4ª série. Já na 8ª, São Paulo subiu de 226,5 pontos para 241 (variação de 14,5 pontos) em leitura. Schneider, porém, foi comedido ao comentar a variação.
Segundo ele, pode ter havido pequenas diferenças na aplicação das provas, o que refletiria nos resultados. "Ainda estamos analisando. Seria desonesto dizer que tenho certeza de que demos um salto tão grande em tão pouco tempo", afirmou.
Schneider diz que outros programas, além do reforço, irão trazer benefícios para a rede. Ele cita, por exemplo, a própria prova, que fornecerá às escolas os resultados de cada aluno -os outros exames do gênero mostram o desempenho só da escola como um todo.
A secretaria não divulgou os desempenhos das escolas nem das regiões da cidade. Disse que se comprometeu com a rede a não fazer rankings.

Excesso de alunos nas salas é um dos maiores problemas, dizem especialistas

Profissionais da rede e especialistas apontam o alto número de alunos nas salas de aula como um dos problemas mais graves da educação municipal.
"Não dá para trabalhar com 45 alunos nas salas, como hoje. O máximo tem que ser entre 30 e 35", diz o professor Adelson Queiroz, do Sindicato dos Profissionais de Ensino em Educação Municipal de São Paulo.
Para Queiroz, a eliminação do terceiro turno de aulas até o fim do ano, meta da gestão Kassab para 2008, depende, além da construção de novas escolas, do investimento em qualificação dos professores.
"Se houver condições de salário para que o professor não precise trabalhar em duas ou três escolas, será viável", diz.
O professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Vítor Paro, diz que o modelo do município é "de dois séculos atrás".
"Essas provas não explicam e nem apresentam nada", diz Paro, que criticou o exame. "Esse tipo de prova revela o que qualquer pessoa poderia descobrir sozinha: que os alunos não sabem ler", diz.
A avaliação da pedagoga Silvia Colello, autora dos livros "Alfabetização em questão" (2004) e "A escola que não ensina a escrever" (2007), é positiva.
"85% de alunos alfabéticos na segunda série é um número bom", diz Colello, que acredita que o processo de alfabetização se conclui ao longo das quatro primeiras séries.
Outro dado -os 4% de não-alfabéticos na quarta série- preocupa mais a professora. "Esses são alunos que vão sendo abandonados pelo sistema ao longo do processo".
Os dados da prova podem ser "balizadores" para que as escolas reestruturem a "orientação de recuperação, abordagem de conteúdos, acompanhamento individualizado e horários", afirma o professor da USP Romualdo Portela.
No entanto, Portela acha pouco confiáveis dados obtidos em provas do tipo para alunos abaixo da quarta série. "Um aluno da segunda série é muito mais susceptível a dificuldades de interpretação; 15% de não-alfabéticos podem não representar problema de cognição".

SAIBA MAIS: EXAME É SIMILAR AO APLICADO PELO GOVERNO FEDERAL

A Prova São Paulo é um exame aplicado em novembro do ano passado a todos osalunos da 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental da rede municipal de São Paulo. São questões de língua portuguesa e matemática. A prova utiliza a mesma base metodológica da Prova Brasil, exame do governo federal aplicado em 2005 na 4ª e 8ª séries. Assim, os resultados são comparáveis. A diferença é que os alunos da rede municipal saberão as suas notas individuais; na
Prova Brasil, o máximo de detalhamento foram as notas por escola. A escala de médias é cumulativa e comparativa -ou seja, alunos de 4ª e 8ª séries com uma nota 150 têm o mesmo nível de conhecimento.

Folha de S.Paulo, 2 fev. 2008.

Um comentário:

Alê Serra - mãe da Manu disse...

Parabéns...
Será que existe no Paraná algum blog com informações e oportunidades p profe participar?
Abraço e continuem!!!